O que há de errado com nossas resoluções de ano novo?

Um dos primeiros erros de planejamento de início de ano é focar em grandes metas. Então, o que fazer para que nossas resoluções tenham maior capacidade de serem concretizadas?

Além dos típicos votos de Feliz Natal e de Feliz Ano Novo, algumas das frases que mais se ouvem nesse período incluem as resoluções de mudança de conduta pessoal: “Em 2015 eu vou parar de fumar definitivamente!”; “Iniciarei minha dieta, pra valer, no dia 1o de janeiro”; “No próximo ano eu passarei mais tempo com meus filhos”; “Vou começar a economizar dinheiro”. Por que essas resoluções geralmente falham? Por que é tão difícil romper com a automaticidade dos hábitos? Diversos desses fenômenos são investigados na psicologia social, que fornece não somente explicação, mas também maneiras pelas quais podemos ter melhor êxito.

Dois modelos teóricos têm se destacado para explicar a boa mudança de hábitos, reunindo décadas de aplicações robustas em diferentes áreas. O primeiro foi desenvolvido por Martin Fishbein e Icek Ajzen na década de 1970. A teoria do comportamento planejado mostra que a atitude (“parar de fumar é algo bom para minha saúde”) não é suficiente para predizer nosso comportamento. A mudança depende também do quanto achamos que outras pessoas esperam isso de nós (“minha esposa certamente espera que eu pare de fumar”) e do quanto acreditamos que a mudança está sob nosso controle (“eu consigo parar de fumar por conta própria”). Juntas, essa variáveis constituem a chamada intenção comportamental, que as pesquisas mostram guardar maior correlação com o comportamento.

O segundo modelo investiga os mecanismos de autocontrole. Nos trabalhos de Peter Gollwitzer iniciados na década de 1980, verificou-se que formar intenções de implementação facilita a manutenção de comportamentos adequados em situações difíceis, como a recaída em um hábito. Nesse caso, a teoria mostra que estímulos do ambiente podem servir como fonte de regulação do comportamento, se nos programarmos para uma lógica de “se... então...” (“Se me oferecerem refrigerante, eu vou preferir um suco natural”). Isso torna o autocontrole mais eficaz, porque passamos a depender menos de decisões conscientes.

Então, o que fazer para implementarmos efetivamente nossas resoluções de início de ano?

Planejar em etapas menores

Um primeiro erro de planejamento nessas resoluções de fim de ano é focar em grandes metas (p.ex. “vou emagrecer 20 kilos”). Elas acabam sendo percebidas como irreais e são facilmente abandonadas. Quando planejadas em etapas menores (p.ex. “vou emagrecer 2 kilos nesta semana”), tornam-se factíveis no dia-a-dia e garantem o reforço positivo que precisamos para continuar com a mudança.

Comprometer-se menos consigo mesmo

Outro erro frequente é se comprometer com várias resoluções ao mesmo tempo.  As pesquisas mostram que mudanças de hábito simultâneas geram dificuldades exponenciais. Em muitas dessas situações as pessoas acabam fazendo autoconcessões. Pior ainda, não cumprir uma certa resolução acaba por afetar outras.

Não saia por aí anunciando suas resoluções, registre-as para si mesmo

A recomendação mais contra-intuitiva das pesquisas sobre resoluções é a de que não as comuniquemos publicamente. O simples ato de contar aos amigos ou familiares aquilo que pretendemos implementar acaba tendo um efeito contrário. Quando falamos da resolução, somos imediatamente reforçados com elogios, incentivos e sorrisos, dando-nos uma falsa sensação de que já estamos colhendo os benefícios. Para evitar esse efeito reverso, é muito mais eficaz a estratégia de registrar, para si mesmo, os pequenos passos de uma boa resolução. Isto pode ser feito em papel ou em softwares e aplicativos que nos ajudam a administrar gastos, horas de sono, quantidade de copos d’água que tomamos diariamente, entre outros.

Promova soluções, ao invés de prevenir problemas

Para concluir, lembramos que o problema não é nossa capacidade de cumprir metas, mas a maneira equivocada como muitas vezes as concebemos e as planejamos. As resoluções de ano novo devem ser preferencialmente enquadradas de forma separada, a partir de seus resultados positivos (promover soluções, ao invés de prevenir problemas) e como um processo de aprendizagem (foco no progresso contínuo, não na performance de um dado momento, que pode ser frustrante).

Mas a maior questão talvez seja também a mais simples e imediata... Por que esperar uma data específica para começar a sua mudança?

Por Fabio Iglesias e Ronaldo Pilati*

* Professores do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e coordenadores do Laboratório de Psicologia Social da Universidade de Brasília.
 Texto extraído da UnB Agência, adaptado para o Concursos no Brasil.

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