Ser concurseiro é desperdiçar talento? (Parte II)

Muita gente parece pensar que o indivíduo que opta pela carreira pública é um "acomodado na vida". Você também pensa isso de si mesmo? É hora de rever seus conceitos.

Não são todas, mas é fato que ainda algumas pessoas ainda carregam consigo o pensamento errôneo de que o indivíduo que opta por concursos públicos tem o perfil de ser um acomodado, nunca o de um empreendedor.  Logicamente, quando alguém chama um profissional que escolheu a carreira pública de "acomodado", na verdade, está querendo dar um tom eufemístico para expressões mais fortes, do tipo " gente preguiçosa" ou, como outro dia li em um artigo sobre o tema, gente que "não deu para nada no mercado".

Por outro lado, outros acham que o foco do concurseiro é ter uma vida de regalias. Afinal, folgar dois dias por semana, ter pontos facultativos em algumas vésperas de feriado e prolongar o descanso, não sofrer atrasos gritantes de salário, não se restringir estritamente ao crivo de um "patrão" intimidador que lhe cobra produtividade sempre, são considerados por alguns como verdadeiros "luxos", algo que na iniciativa privada nem sonhando se consegue.

Não quero defender aqui nem quem taxa o concurseiro/concursado disso tudo, nem o próprio concurseiro/concursado, até porque sabemos quais são, em parte, as raízes de todas essas visões de funcionalismo público, entre as quais, podemos lembrar de duas:

1.      A corrupção histórica do Brasil.

 Infelizmente, desde o berço tomamos ciência de que, embora o Brasil seja o "país do futuro" (que nunca chega), ele está atolado numa lama de casos de corrupção dificilmente contornáveis. Os sucessivos escândalos no cenário político não param, independente do partido da situação ou da oposição, independente das boas intenções dos governantes e legisladores. Tudo o que há de sujeira continua acontecendo em nosso país, das mais variadas maneiras, aliás, acontece desde que o Brasil é Brasil, desde que os nossos descobridores pisaram nesta terra e povoaram esta nação.

Claro que isso tinha que respingar nos servidores públicos não nomeados via voto, ou seja, nós, os concursados. O discurso de que na área pública a lei da vantagem deve imperar pode ter surgido de nossa "(má) formação política", essa mesma que julga-nos como marajás, como fantasmas. E outra vez aqui, infelizmente, todos pagamos pelos erros de uma pequena parcela de "servidores" públicos corruptos.

Então, concurseiro, a única dica que pode ser reforçada aqui é esta: não nos deixemos influenciar pelo nosso passado e presente conturbado politicamente, cheio de maracutaias, mensalões, anões do orçamento, funcionários fantasmas, licitações fraudulentas, concursos fraudulentos, acertadores constantes de loteria, doadores interesseiros de fundos de campanha e tantas outras maldições filmadas e testemunhadas todos os dias. Mas concentremos nossos esforços para não errar no futuro, que por sinal, está sendo construído agora, enquanto você está aí, cheio de sonhos pensando em ingressar no funcionalismo público.

2.      A falta de consciência dos próprios concurseiros ou funcionários públicos

O mesmo artigo lembrado no começo desta postagem, de Gustavo Loureiro, relata o típico concurseiro "viciado", que carrega no seu desejo de aprovação algumas das pretensões que deveriam ser extirpadas de nossa sociedade. O autor diz que toda vez que pergunta a alguém que se prepara para fazer concurso público o porquê da escolha, o que ele ouve é uma infame resposta:

(...) "a maioria das respostas é nesta linha: - Quero ganhar bem e trabalhar pouco; ou - Fazendo concurso eu não vou ter que 'ralar' e vou ganhar um ótimo salário pelo pouco que vou trabalhar..."

É com essa mentalidade malandra, tão característica da nossa própria constituição política torta (que, entre outras coisas, não prezou muito pela honestidade em alguns momentos) que esse concurseiro vai acabar sendo aprovado e efetivado? Nossos futuros servidores públicos precisam dessa visão para se motivar a servir ao país?

O pior ainda é ver o concursado - o funcionário público de fato - defendendo essa mesma tese e repassando isso para os filhos. É de doer.

Vamos torcer muito somente para que esse tipo de concurseiro, quando enfim efetivado, seja um funcionário público que realmente faça a diferença. Isso não significa que ele precise executar ações administrativas mirabolantes ou aparecer na mídia, mas simplesmente desempenhar satisfatoriamente as suas atribuições. Se ele assumir seu posto para se tornar somente mais um agente multiplicador do descaso para com o público, da morosidade, da corrupção epidêmica, da má vontade, da má fé e do "funcionalismo fantasmagórico", estaremos todos perdidos!

Conclusão

Os críticos dizem em geral que falta aos interessados por concursos o tino empreendendorístico e a proatividade. Mas convém lembrar que isso é bastante discutível, porque creio que prestar concursos não aniquila o tino empresarial de pessoa alguma, desde que ela o possua.

Lembro - me de uma história que ouvi recentemente sobre um dentista que poderia muito bem, enquanto recém saído da faculdade, desbravar os concursos por este Brasil afora. Mas sabe o que ele fez? Prestou concurso para ser dentista em uma cidadezinha do interior e, chegando lá, viu que tinha tanto campo para trabalhar para si mesmo que decidiu deixar de lado aquela aprovação. Hoje vive muito bem com suas clínicas, tendo uma vida financeira de fazer inveja a qualquer empresário, consultor ou artista, como alguns desses que muitas vezes se pronunciam por aí duramente contrários aos concursos públicos...

Alberto Vicente

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