Vale a pena trabalhar em lugares afastados das grandes cidades
Muita gente tem optado por concursos ou por aceitar empregos em regiões afastadas dos grandes centros urbanos. Qual a vantagem e a desvantagem desse tipo de escolha?
Com a determinação de ser aprovado em um bom concurso público, muitos permanecem firmes na execução dos seus projetos pessoais. A estratégia central rumo a essa conquista não é um mistério para ninguém: estudar, estudar e estudar. Mas ninguém pode negar que existem algumas alternativas para, ao menos, aumentarem-se as chances de ser convocado via concurso público. Entre essas opções está a de se inscrever para concursos que ofereçam cargos cujo local de lotação é caracterizado como uma região onde a competitividade não demonstra ser tão acirrada.
Esse tipo de situação, reconheçamos, era mais possível de acontecer cerca de uma década atrás, mas não significa dizer que na atualidade tenha deixado de acontecer! Muitos profissionais liberais permanecem optando por trabalhar e morar nos grandes ou médios centros urbanos, onde determinadas opções de moradia, comércio e lazer são bastante favoráveis. Mas a realidade (e até mesmo a relativa saturação de vagas nas grandes cidades) tem traçado outro quadro social.
Rafael, um odontólogo mineiro, tomou há cerca de um ano a difícil decisão de se mudar para uma cidade do interior do Brasil. "Aqui, as desvantagens aparentes são diversas, como por exemplo: fiquei sem acesso às opções de lazer que tinha na minha cidade de origem, não há um comércio atraente, determinados produtos, como roupas e os serviços de internet, são até mais caros do que lá, e também não encontrei bons locais para comprar alimentação, já que sou solteiro e não tenho tempo de cozinhar. No entanto, se a oportunidade de emprego que encontrei foi aqui, e considerei ser um bom salário, pensei: 'por que não?' Então, decidi me conformar e percebi que, como diziam os mais velhos, para tudo há um jeito e muitas vezes reclamamos 'de barriga cheia'. Se eu tivesse ficado na minha cidade nesse tempo todo depois de formado, tenho quase certeza de que ainda não estaria em um bom trabalho" resume o profissional.
A candidata Clara Barreto, por exemplo, em 2006 decidiu abandonar a carreira de administradora para ingressar no serviço público. Como o concurso do INSS nessa época já era altamente competitivo, a ideia de Clara foi fazer a sua inscrição para trabalhar no posto do INSS de uma pequena cidade no interior da Bahia. Ela julgou que lá a disputa seria menor por ser um local que fica no oeste do Estado, longe da capital e sem tanta estrutura para entretenimento. A tática funcionou: naquele ano, ela foi a primeira colocada no concurso do INSS e até hoje atua no posto da cidade escolhida.
Outro a seguir esta mesma ideia com sucesso foi o próprio esposo de Clara Barreto, inclusive para o mesmo concurso feito pela companheira (INSS) na cidade onde considerou que seria baixa a concorrência. O resultado foi que Adson Barreto passou em segundo lugar em 2006 e igualmente trabalha até hoje na cidade.
Em 2005, Alberto prestou concurso para o magistério também para o Estado da Bahia e fez uso dessa mesma estratégia. "Durante o processo de inscrição, lembro que na fila da Caixa Econômica, quando estava pronto para pagar a taxa, dei uma boa analisada na distribuição das vagas do edital e, depois de vasculhar as regiões, não tive dúvida: escolhi uma cidadezinha chamada Pintadas, para a qual previ que poucos candidatos de fora poderiam se inscrever", conta o candidato. E foi dito e feito: no final do ano seguinte ele foi convocado, com folga na pontuação, mesmo sem ter apresentado os títulos. Foi morar na cidade, mas por causa de outra convocação em concurso para a cidade natal, resolveu pedir exoneração e voltar para casa. "Mesmo assim, não me arrependi da escolha, pois durante a minha estadia na cidade com a família fiz bons amigos, com os quais até hoje me relaciono. Valeu pela experiência, sei que poderia ter pedido remoção depois do estágio probatório, mas decidi voltar antes, pela oportunidade que surgiu meses depois", relatou.
Por incrível que possa parecer, Alberto passou pela mesma experiência dez anos depois: uma oportunidade no setor privado o fez novamente mudar de cidade dentro do Estado. "Eu já estou ficando meio experiente nesse tipo de mudança de vida, mas tenho tirado muitas lições a respeito", conclui.
O conselho que eles dão para os que lutam por uma vaga no funcionalismo público é ter um certo desapego pela cidade natal e começar a projetar novos horizontes de trabalho na área pública. Embora hoje tudo esteja muito disputado, a verdade é que em lugares mais longínquos dos grandes centros ainda é menor a quantidade de pessoas inscritas. "Tive esta visão de me inscrever para outras opções que não a cidade onde nasci e vivi e o resultado foi positivo. Agora a batalha é por uma transferência", acrescentou Adson.
Por pensar assim, o administrador Leonardo Sampaio está inscrito para fazer um concurso em uma cidade satélite, em Brasília, capital federal. Ele disse que antes de fazer a inscrição fez um estudo de lugares onde não há tantos atrativos para se morar, acreditando ser este um dos fatores que faz o índice de inscritos cair muito em determinadas localidades. "Espero que comigo esta estratégia funcione, pois isso é o que poderá me garantir a felicidade em um futuro próximo. Ao menos, economicamente falando", brincou.
O candidato Alberto, que mencionamos antes, por fim, deixa uma última orientação para os que estão estudando: ao participar de um concurso para outra cidade, ou mesmo se estiver pensando em abraçar uma oportunidade no setor privado, dependendo do seu grau de confiança em ser aprovado/contratado, comece a projetar a "logística" de transferência para a região escolhida, levando em conta o bem estar da família, as condições financeiras iniciais, o quanto terá que gastar para as mudanças, enfim, tudo precisa também ser pensado. "Saiba também que, inicialmente, terá que passar por um processo de adaptação, que poderá ser traumático ou agradável para a sua vida, dependendo da maneira como você reage frente às mudanças geográficas".
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