Buscando forças para recomeçar após uma reprovação

A reprovação é a chance que os concurseiros e estudantes têm de aprender um pouco mais.

O que se segue não é exemplo de glória para ninguém, nem pretende ser, apesar de não acreditar que somente boas histórias de sucesso formem uma pessoa. É mais um desabafo com o intuito de gerar forças para mim mesmo neste momento e quem sabe alcançar algum leitor que tenha passado por situações similares em concursos públicos, vestibulares, provas de faculdade, testes de emprego e outras seleções da vida.

Fui reprovado recentemente em uma disciplina específica e obrigatória de um curso superior. Era justamente uma daquelas matérias básicas, das quais a gente pensa logo em se livrar, para poder - talvez - respirar novos "ares" acadêmicos no período futuro. A classe era mista e dos homens posso ser considerado o mais velho (em idade mesmo), com exceção de outras duas mulheres (a média de idade da sala é de 20 anos, e eu tenho 33, no momento em que escrevo este relato).

Apostilas com conteúdos específicos para todos os concursos públicos:

Nunca notei ali algo parecido com sentimento de exclusão, desprezo, indiferença, nada disso. Muito pelo contrário, toda a turma se dá muito bem e acredito que, mesmo se vier uma separação (por conta das des-semestralizações), continuaremos a ser cordiais uns com os outros.

Por outro lado, sendo um pouco direto, o fato é que ser cotista em uma instituição lhe abre muitas portas, mas lhe fecha outras tantas. E o perigo maior é quando você, por algum deslize exacerbado, deixe a chave dessas portas fechadas se perderem de vez. O negócio é como diz mesmo o ditado: agarre as oportunidades de sair do comodismo! Digo isto porque concordo com o professor Nailor Mendes quando diz que "universidade é um lugar para pessoas fortes". Então, de nada adianta você entrar por cotas se não mostrar a que veio, se não fazer o máximo para provar que pode mudar de nível.

Para a maioria dos cotistas e para aqueles que há mais de uma década deixaram de estudar, a sensação é parecida: é inevitável não perceber claramente certa falta de base em alguns conhecimentos, especiamente em algumas áreas de conhecimento ligadas às ciências biológicas e às da saúde. Contudo, percebo também que de maneira alguma isso tudo me desanimou, pois sempre senti-me tentado a recorrer à literatura da área para buscar melhorar no que puder.

Devido à minha vivência pregressa, vejo que se trata de algo relativamente diferente da primeira graduação que cursei. Naquele caso, eu estava entrando sem cotas, para uma área que de certa forma até "dominava", pelo fato de que algumas noções de Letras já fazerem parte significativa da minha vida a partir da adolescência. Agora, tudo é novo e por isso mesmo tão desafiador e estimulante, tendo Deus sempre me ajudado, por maiores que tenham sido as dificuldades. Sair das Letras para a Enfermagem foi uma trasvessia inusitada, eu nem imaginaria. Tudo é possível neste mundo. Por isso, não se espante tanto se daqui a 10 ou 15 anos você se depare com uma realidade que sequer imaginou nos melhores ou piores dos seus sonhos. 

Voltando ao assunto central, o fato é que, ao sermos reprovados, diferentes sentimentos se misturam. Por exemplo, primeiro me senti rebaixado à categoria de ninguém, depois senti que todo o meu esforço foi vão e que eu deveria era ter estudado mais e mais. Como foram reprovados também outros colegas, o lado talvez bom é que eu não estava sozinho, como pensava.

Paradoxalmente - por mais estranho que pareça - senti que dei o meu melhor, fiz o máximo de mim, levando em consideração todas as ocupações presentes no meu cotidiano, principalmente o trabalho. Afinal de contas, não sou mais aquele rapaz de quase vinte anos bem menos ocupado do que esse cara um pouquinho mais velho de hoje, mas ainda cheio de sonhos! Cheguei a algumas conclusões primárias sobre esse episódio, e aqui vão elas:

1. Não colocar a culpa nos outros pelo insucesso é um bom começo.

Somos experts em matéria de adicionar desculpas para justificar nossos erros. Somos experts em falar mais do que ouvir. Lembro-me de um episódio com um professor, que é pouquíssimos anos mais velho do que eu. Estava prestando um estágio básico de três dias com um colega que claramente dava 10 a 0 em mim, no que se refira a ser estudioso (ele tinha o dia inteiro para estudar, eu tinha as noites e os finais inteiros de semana!). No momento do estágio, vacilamos em detalhes que a teoria havia nos explicado, em sala nós fomos alertados, mas a prática tratou de fazer a gente esquecê-los. O professor nos chamou em particular e apontou nossos erros. Eu e meu colega íamos de certa forma estávamos já nos armando para entrar com tudo nos nossos argumentos, mas antes o professor disse:

- Parem! Chega! Escutem primeiro, parem com essa mania de apontar uma desculpa para tudo! Vocês tem a mania de para tudo quanto é erro apontar mil desculpas. Erraram, não tem mais jeito! Escutem, pelo menos! (não disse com essas palavras, mas é como se tivesse dito).

É simplesmente isso mesmo, o professor estava certo. Não adianta acharmos desculpas para tudo. Já aconteceu momentos de "se matar" de estudar para fazer uma prova (não apenas na véspera dela, diga-se!) e acabar sendo reprovado, como já aconteceu exatamente o oposto! Culpa da prova? Culpa do professor? Culpa do assunto? Culpa de quem? Melhor abaixar a cabeça um pouco de tempo e depois levantar para dar a volta por cima, isto é, estudar tudo de novo. 

2. Quanto mais estudo, maior o sucesso, embora nem ele sempre venha quando mais se quer.

Quanto mais estudo, maior o sucesso. Embora isso não seja uma ciência exata, acho que é o nosso único alento. Como lembrei antes, às vezes até mesmo uma preparação prévia bem assentada pode não nos levar à aprovação lá na frente. Mas isso tem um lado muito bom.

Para mim, a reprovação de uma pessoa que pelo menos tentou fazer bem feito é digna de nota. A pessoa passou dias, meses, anos, juntando forças e vontades em prol dos estudos, abdicando de certos confortos e prazeres e, se mesmo assim perdeu naquele concurso/seleção/exame, o que se há de fazer a não ser prosseguir na caminhada? Para mim, perder tendo lutado com garra é tão importante quanto ganhar na garra.

Diferente é a reprovação de quem entra no jogo sem ter coisa alguma a perder, somente por jogar, sem treino, sem lenço e sem documento. Você deve conhecer algum ser humano desse tipo... Ganhar sem esforço nos deixa muito mal acostumados.

3. Reprovação é aprendizado

Falei de reprovação para uma disciplina de uma área com a qual não sou lá muito familiarizado. Claro que não serei mentiroso de fazer aqui o papel da raposa em relação às uvas, dizendo que "foi melhor assim, que eu nem queria passar mesmo, que valeria à pena repetir a matéria", etc, etc.

Sem essa. Todo mundo quer avançar num curso, ninguém quer ficar para trás. Todo mundo quando não passa no concurso desejado, tenta de novo quatro anos depois, enfim. No entanto, se a reprovação veio e se o único modo de superar aquilo é repetindo o conteúdo, o melhor mesmo é fazer tudo para dar certo dessa vez, aproveitar o máximo para fazer diferente, inclusive porque até mesmo algumas "manhas" já foram dominadas (elas podem nem se repetir, o professor pode mudar, mas contribuirão para sua atenção se redobrar um pouco).

Então, para mim, vai ser mesmo aprendizado. Como alguém mesmo disse, se aquele conteúdo não esgota se fosse dado ao longo de um ano, o que dizer quando ele é exposto em quatro meses? Por isso vou concluir sendo bem óbvio: a reprovação é a chance que os concurseiros e estudantes têm de aprender um pouco mais.

Alberto Vicente

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