Quem pode se dedicar 100% aos estudos?
Na "conjuntura brasileira", viver como um concurseiro dedicado única e exclusivamente aos estudos é um luxo para poucos.
É muito complicado (soa até arrogante em alguns aspectos) você dizer, por exemplo, a um pai de família, empregado na iniciativa privada, com dois filhos pequenos, morando em casa de aluguel e contraidor de dívidas afins, que ele precisa se dedicar 100% aos concursos públicos, já que sonha em ser aprovado em um deles. Da mesma forma, é demasiada insensatez você dizer a uma jovem mãe solteira de apenas um filho em idade escolar, que trabalha de segunda a sábado, que mesmo com ajuda da mãe em casa, ainda precisa dar conta de certas tarefas domésticas, que ela só conseguirá ser Técnica da Previdência Social se fizer a escolha de renunciar.
Situações como essas são tão comuns no Brasil que poderíamos listar aqui "n" histórias de gente que até tenta desbravar com garra a seara dos estudos para concursos/vestibulares, mas tem se limitado a persistir do jeito que tem conseguido. Algumas vezes eu sei que dá certo, em outras vezes o sonho vai sendo adiado. Acredito que neste país ainda é um luxo o brasileiro trabalhador médio renunciar a tudo somente para estudar.
Devem ter vários tipos de relacionamento das pessoas com os concursos, mas neste momento eu destacaria três tipos de pessoas: há as que serão inevitavelmente aprovadas por causa do elevado nível de "concentração" em que já estão imergidas há algum tempo; há as que persistem em busca de uma aprovação com muito esforço em meio a contratempos diversos e há as que desistirão no caminho, ou seja, tentaram algumas vezes, mas decidiram nunca mais enveredar por esse caminho.
Um colega me contou um dia que tomou uma decisão bastante consciente: resolveu trabalhar duro por um ano inteiro para somente juntar dinheiro e, no ano seguinte, decidiu se demitir e focar apenas nos estudos para um concurso de seu interesse. Nos cursinhos, cada vez mais gente tem deixado de lado a sequência "vestibular-faculdade-depois-concurso" para "concurso-independência-financeira-depois-vestibular". Esse é o candidato perfeito para atingir aquele nível de "concentração" que mencionei antes?
Um amigo meu, há uns 15 anos atrás, trabalhava de segunda a sábado em indústria e achava que somente em finais de semana ou algumas horas de leitura à noite dariam para assegurar uma preparação mínima para passar em algum concurso da área policial. Até hoje não conseguiu entrar na polícia militar, como gostaria e certamente já não tem mais a idade permitida para ingresso nessa carreira. Conclusão: foi mais um desistente. Que eu tenha conhecimento, até hoje é operário. Será que o sonho dele acabou?
Outra pessoa me informou que está na faculdade, trabalha o dia inteiro e ainda pretende fazer muitos concursos. O problema é que ele não tem tido tempo para quase nada, malmente está dando conta dos conteúdos da graduação, malmente está correndo para resolver as demandas do trabalho. Enfim, será que esse é candidato a desistir da caminhada também?
Onde estou querendo chegar é simplesmente à constatação de que tudo pode acontecer para essas pessoas, inclusive nada, só depende da força interior de cada um. Apesar do concurseiro "concentrado" ter matematicamente mais chances, quem pode garantir que ele não será preterido por outro que começou a estudar três meses antes para aquela prova? Apesar da chama do operário estar apagada, será que se ele não insistir mais um pouquinho, "reinventar a roda" dos estudos, retomar o caminho, mesmo de acordo com o seu dia a dia de suor, ele não consegue ainda um cargo público, antes dos 40 ou 50 anos?
Eu vejo muita gente dizer e até concordo: "esse tipo de concurso é pra quem está há anos estudando, não dá pra mim". Só que a pergunta que me faço sempre que ouço ou digo esta frase é: "até quanto tempo eu vou ficar vendo os outros avançarem na fila, enquanto eu somente constato a minha inércia"? Não seria melhor eu galgar então pelo menos as posições para as quais vejo que tenho as maiores chances de alcançar?
E se na iniciativa pública você efetivamente não conseguir entre, vai desisitir e pensar que concurso público é coisa para poucos? Faça o que fizer, tome uma decisão na qual possa mais tarde repensar e sentir que está feliz com o rumo de sua vida.Ao final, é isso que importa.
Antes de escrever um comentário maldoso sobre o modo como as pessoas escrevem, apontando os "erros de português" e querendo dar uma de "dono da gramática", leia este artigo
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