Quando é bom ouvir a opinião dos outros

Cada pessoa sabe o valor de um conselho, mesmo se for um mau conselho.

Há um ditado popular que diz que "quem vai pela cabeça dos outros é piolho", mas ele é uma meia verdade. Nem sempre um conselho ruim desmotiva o candidato de participar de um concurso, mas às vezes até um conselho bom é o que faltava para ele desistir de participar de uma seleção. Não sei como as coisas funcionam para os outros, mas poderia responder por mim.

Há momentos em que a determinação fala mais alto do que qualquer concorrência abrupta. Muitas pessoas já sabem que dificilmente irão avançar em mais de 50% de uma prova, mas preferem participar do concurso para ganhar confiança em si mesmas, e um pouco de experiência. Passei por isso recentemente, ao participar de um concurso para a área dos Tribunais, a qual todo mundo sabe que são das mais concorridas, em qualquer Estado brasileiro. Todo candidato sabe (ou deveria saber) que concurso para os "T" (TJ, TRE, TCE, MPs, etc, etc) são geralmente dependentes do alto desempenho dos candidatos: só mesmo aqueles que gabaritam em quase 100% conseguem garantir alguma possibilidade real de classificação, já que são milhares de inscritos. Eu havia estudado pouco, mas mesmo assim ouvi uma daquelas pérolas: "você para de estudar, se não vai ficar doido".

Ironicamente, já sabia que não estava estudando 50% do que precisava, e as pessoas já queriam por na minha cabeça a ideia de que aquilo era demais. Quantas vezes você já passou por isso? Acredite: concurseiros rigorosamente honestos consigo mesmos reconhecem que não estão fazendo o seu melhor em 80% das vezes em que participam de um certame, apesar de dizerem que "estão estudando", estão "correndo atrás", estão "se matando de estudar". 

Então: quando te disserem que você está ficando "doido de estudar", desconfie rapidamente dessa lenda e corra mais ainda para ultrapassar seu prejuízo. Trata-se de um mau conselho, que alguém deu provavelmente por ver alguma cena específica de sua vida (você debruçado em um compêndio de Legislação, por exemplo), mas que pode também servir de alerta. Se te disseram isso, tenha quase certeza de que ainda precisará ralar mais para passar em algum concurso, porque você sabe que aquilo não condiz com a realidade, foi só uma cena de um roteiro grande. Ou seja, você está até no caminho certo, as pessoas já notam, mas  ainda é pouco! Os resultados das provas dos grandes concursos não mentem nesse sentido.

Há, por outro lado, conselhos imbecis que partem de situações como esta: alguém realizando um trabalho braçal, diz para o filho ou outra pessoa: "estude, para não acabar como eu acabei". Quem me garante hoje em dia que uma pessoa, mesmo estudando tanto e tanto, não acabe a vida fazendo algum serviço "braçal". Conheço pessoas que estão no doutorado, mas ganham um bom dinheiro no restaurante da família, trabalhando como caixa. Conheço operários de indústria que estão com um padrão material de vida que muito professor do Estado não alcançou com anos de magistério. Há pessoas que estudaram Letras, Pedagogia, Enfermagem, Direito, Jornalismo, e tantos outros cursos, que hoje estão exercendo atividades diretamente opostas às suas áreas de formação. Da mesma forma, há estudantes de graduação que sonham encontrar qualquer tipo de emprego, para poder se manter e conseguir terminar os estudos, e não estão encontrando. E que mal existe nisso? Qual é o trabalho honesto nesta terra que não seja digno de uma pessoa realizar, só porque ela é "estudada"? O que é que o gari da sua rua ou o faxineiro da sua empresa tem de inferior a você, com exceção do valor monetário do seu trabalho? São seres humanos, um depende do outro. Todo trabalho - "braçal" ou "intelectual" - é digno de ser valorizado. É uma pena que, nesta sociedade capitalista, as pessoas meçam as outras pelo dinheiro.

Para encerrar, digo que os conselhos de pessoas que talvez estejam te invejando sirvam muito para seu crescimento, isto quando sua alma não é pequena e não esmorece ao ouvir o primeiro chuvisco de críticas. Eu não me lembro de conselhos dados por invejosos para a minha vida, mas ainda bem, porque se deram, eu certamente não os segui. Já ouvi conselhos de pessoas para parar de fazer um curso, ou parar de insistir em ser o que eu não sou. Entraram em um ouvido e saíram no outro. Preferi continuar sendo a mesma pessoa, nem mais pobre nem mais rica, mas feliz, contente com o que conquistei e perseverante com o que ainda irei conquistar. Sem cobiçar nada dos outros. Paulo de Tarso tem um exemplo de vida maravilhoso com relação a isso, quando ele diz:

"Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência,tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez". (Bíblia, Filipenses 4).

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