Educação a distância, inclusão social e preconceito

Educação a Distância continua sendo uma das modalidades de instrução mais procuradas por trabalhadores brasileiros de todos os níveis. Cada vez mais, seu valor precisará ser reconhecido.

A Educação na modalidade a distância, em apenas cerca de duas décadas de vida, continua crescendo a cada ano. Crescimento este que não apenas se tornou mais significativo pela visível propagação dos cursos de nível superior. Cursos de curta ou de média duração (técnicos, profissionalizantes ou preparatórios) prosseguem tendo boa aceitação no mercado brasileiro, movimentando milhões anualmente e fazendo a máquina das oportunidades girar sem parar, inclusive para a seara dos concursos públicos.

Trata-se de um sistema de ensino que pode seguramente ser visto como um agente capaz de reduzir as grandes demandas que possuímos por profissionais de diversas áreas, servindo inclusive para reduzir a lacuna de profissionais de nível superior ainda grande no país. Com relação ao preconceito ainda existente na sociedade, especialistas do setor enfatizam que, na verdade, o que parece ainda prevalecer é o desconhecimento do potencial que tal modalidade possui. Cursos presenciais e a distância podem ser plenamente equivalentes - e não se pode mais dizer que um é "superior" ao outro, em termos de qualidade.

Para esses que ainda possuem uma visão pessimista de que EAD é sinônimo de educação de má qualidade, vale ressaltar que é justamente para combater tais ideias que a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) vem trabalhando há alguns anos. No ano de 2014, em resposta a uma crítica de um veículo nacional de imprensa, que afirmava ser o índice de evasão de 80% na EAD uma evidência da má qualidade educacional, a ABED lamentava tamanha desinformação. Dados encontrados no CensoEAD.Br, demonstram o contrário dessa tese: os motivos para o acentuado índice de evasão eram a falta de tempo para estudar e a falta de adaptação à rigorosa metodologia dos cursos EAD. Em avaliações nacionais, como o ENADE, também ficou provado que os resultados das provas realizadas por alunos de cursos na modalidade a distância estão no mesmo nível dos cursos presenciais.

Saiba tudo sobre Educação a Distância, acessando os sites da ABED (http://www.abed.org.br/site/pt/) e do MEC (http://portal.mec.gov.br)

A ferramenta que, sem dúvida, permitiu todo esse crescimento da EAD no mundo é a Tecnologia da Informação e Comunicação. Claro que existiam formas de ensino a distância no passado, mas estavam longe de ter a dimensão que têm hoje. Afinal, quem não se lembra dos cursos por correspondência, existentes há décadas, mas que ainda hoje contam com centenas de alunos, em alguns níveis?

O fato, contuto, é que não se pode negar que encontra-se em mutação a forma de interação entre os professores/tutores/monitores e seus alunos, principalmente pelas possibilidades comunicativas hoje existentes. A tecnologia, enquanto aliado positivo, é capaz de fazer muito pela difusão do conhecimento, mas ela não deverá por em segundo plano o papel do professor. Porém, este necessita a todo momento reavaliar suas práticas pedagógicas, outrora pensadas para ser implementadas somente em uma sala de aula convencional. Professores que não ampliam esse horizonte tendem a ficar para trás em suas presentes e futuras turmas. Tente manter a concentração durante uma aula expositiva e tradicional de um professor desconhecedor das novas tecnologias, que talvez você tenha a noção do que estejamos dizendo...

Na tentativa de explicitar as razões do sucesso da EAD no mundo, Cláudio de Musacchio, presidente do Portal EAD Brasil e pós-graduado na área de Informática, elenca pelo menos três evidências (há outras) que devem ser considerados: o mundo será "a" escola; a noção de aprendizagem ubíqua e ubiquidade tecnológica; e a questão da adaptabilidade e flexibilidade.

O primeiro fator diz respeito ao que está mais patente: estamos em processo de "desescolarização", segundo Musacchio, pois a geração Z  (1990/2014) não recebe mais passivamente o conhecimento reproduzido nas escolas físicas. As novas metodologias e tecnologias em rede estão desenvolvendo em nós a percepção de que está em formação uma nova relação com o Saber e com o mercado de trabalho.

Sobre a aprendizagem ubíqua e a ubiquidade tecnológica (ubíquo é aquilo que está em todos os lugares ao mesmo tempo. Deus é ubíquo, ou seja, Ele é onisciente), o pesquisador lembra que essa característica está "redesenhando um novo mundo de utilitários tecnológicos, tanto domésticos (internet das coisas), quanto no cenário empresarial (robótica, drones e intelligence equipments)". Os sistemas de educação global proporcionam rápida expansão da informação (ela chega em qualquer lugar que estiver conectado!) e as escolas tradicionais (os professores!) urge a necessidade de se aprender a lidar com o conhecimento que o aluno adquire fora delas, porque elas ainda ignoram tais conhecimentos. 

Essa ubiquidade tem como face imediata "a deslocalização e a espacialização", que têm "colocado os indivíduos em situações de translado constante". Um exemplo clássico disso são os profissionais ambulantes, que andam com notes, celulares, impressoras de mão, acesso de banda larga para conexão Internet, que atendem as pessoas em qualquer lugar, no ônibus, metrô, bares, hotéis e universidades. O grande paradoxo é estarmos em todos os lugares e não estarmos em lugar algum".  Por outro lado, "o paradoxo da velocidade nos coloca em estradas velozes de comunicação e produção de informação, mas de pouca interação física, pessoal, presencial".

Por fim, quanto à questão da adaptabilidade e flexibilidade, o pesquisador ressalta que "empresas educacionais estão sempre inovando em suas metodologias, introduzindo novas tecnologias, aumentando a capacidade de se adaptarem ao mercado de necessidades de mão-de-obra, de capacitação e habilitação de pessoal e de consumo". Aqueles que não investem nesse segmento de mercado educacional, "tendem a desaparecer rapidamente para àquelas que passam a ditar as regras de comportamento, estilo, padrão e conceito".

O autor também questiona o modelo educacional tradicional, pelo marcante caráter cerceador de determinadas tecnologias. Exemplo disso é o que acontece com o fenômeno das redes sociais. No projeto de educação escolar brasileiro, ainda incipiente, é negado ao aluno, na maioria das escolas, o uso de redes sociais, celulares e tablets em sala de aula. "Na contramão da modernidade, professores solicitam que os alunos desliguem suas máquinas e estabeleçam conexões à moda antiga, com lousas verdes, giz e muita saliva, somente do professor, é claro, porque o forte deste sistema são as aulas expositivas e improdutivas para um aluno que anseia em fazer e aprender observando, refletindo, contextualizando e produzindo áudios e vídeos para tornar a aprendizagem significativa. É preciso um longo caminho até que os sistemas de EAD consigam propor mudanças significativas. Até porque estes cursos EAD ainda se utilizam de velhas ferramentas como MOODLE, entrega de trabalhos e avaliação pelo professor", conclui.

Em um país como o Brasil, onde a educação formal (em qualquer nível ou mesmo modalidade) ainda carece de ter o seu real valor reconhecido, nos resta fazer a nossa parte e torcer para que a EAD seja cada vez mais representativa. Que a EAD seja uma modalidade educacional "autossuficiente", ou seja, que não deixe nada a desejar quando comparada com a dita "melhor qualidade" da educação presencial convencional (até porque o conceito de "presencial" certamente mudará nos próximos anos). 

alberto@concursosnobrasil.com.br

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