A insustentável arte de chutar

Chutar pode ser útil em alguns momentos, mas continua sendo um recurso insustentável

Chutar pode ser útil em alguns momentos, mas é um recurso insustentável. Se as pessoas preconceituosas já falam ser "concurso uma loteria", que dirão sobre a arte de chutar? Dirão que chutar é o recurso dos despreparados, no mínimo. Não compactuo com o dito de que concurso seja loteria, mas concordo que chute é algo parecido com ela. Assim, trata-se de uma arte que não deveria ser "cultuada", ao ponto de ser aceita como rotina em seleções frequentes.

Chute em prova possui analogia direta com uma das fases do futebol: a cobrança de pênaltis. Este é o último recurso disponível para se garantir uma vitória e se confirmar uma derrota. Nos pênaltis, os chutes são os fatores decisórios, mas naquele embate existe uma figura que é o diferencial: um goleiro entre o jogador e a rede, e esse jogador pode estar bastante "inspirado" no dia D e na hora H, sendo capaz de decidir a partida para o seu time (e não para o time do chutador!).

Numa prova de concurso não há a figura do "goleiro", nem metaforicamente: há o candidato e uma questão com cinco alternativas, sem alguém no meio para ajudar ou atrapalhar, porque os fiscais não prestam esse desserviço. Aliás, a única coisa que está no meio disso é aquele fator abstrato chamado sorte. Ou seja, se não há o goleiro, que é um ser concreto, sobra uma coisa abstrata, que se torna azar em uma fração de segundos.

Não vou pedir perdão aos defensores da arte de chutar, pois ela, de fato, tem o seu valor. Também não pretendo depreciá-la, apenas colocá-la no seu devido lugar. Por exemplo, naquelas questões em que o candidato é levado a se confundir por ter certeza de que estudou muito (ou decorou) o assunto cobrado, porém, encontra-se diante de duas ou mais alternativas podem induzi-lo à confusão.  Nesses casos, o chute não vai estar impregnado do fator sorte, mas guarnecido pelo fator preparação, ainda que coabitando com o fantasma da dúvida. Sem contar que nesses casos, o chute é uma prática mínima e localizada, pois o candidato tem um sentimento de que se saiu bem na prova como um todo. Como alguém já alertou,  o importante é o candidato não se torne refém desse jogo de azar chamado chute.

Por fim, não dá para esconder o fato de existirem pessoas (poucas, talvez) que já passaram em provas somente adotando a "técnica" do chute. Claro que é raro, mas já aconteceu, e mesmo se ocorresse num grupo com muitas pessoas, a "técnica" não se tornaria aceitável do mesmo jeito. Afinal de contas, também continua a acontecer todos os dias o fenômeno do enriquecimento lícito por meio da mega-sena e loterias similares, concorda? Sim, mas ninguém fica esperando mudar de vida por causa da loteria, apenas faz a sua aposta e continua tocando sua vida, sem se confiar no incerto. Ninguém pode querer mudar de cargo esperando a sorte ajudar. Por outro lado, imagine como ficariam recheados de qualidade os assentos das salas de aulas das universidades se todos eles fossem ocupados por aprovados pelo chute?

Concluo este raciocínio apenas ratificando tudo o que já foi explicitado, dizendo que a arte de chutar não pode ser encarada como estilo de responder provas. Devemos usá-la com a sabedoria (?) de quem recorre a uma solução quando todas as outras possíveis já foram tentadas - e a principal delas é a mesma: estudar.

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