Para passar em uma prova, não basta querer

Não utilize suas dificuldades como desculpas para abandonar projetos.

Um concurseiro e leitor do nosso site informa que achou o artigo sobre as sete maneiras de combater a preguiça para estudar "um pouco crítico". Nas palavras dele, o texto "fala para nos lembrarmos das nossas dificuldades", só que "isso não vai levar a nada", porque "não precisamos lembrar do passado e presente, o que fomos e o que somos", mas apenas precisamos ver "o futuro". Para esse leitor, "só basta querer, esta sim é a dica".

Ninguém precisa pesquisar muito para se deparar com incontáveis casos de pessoas que também "só queriam", mas acabaram não conseguindo passar numa prova. E aí? Como é que ficaram elas? Responda para você mesmo. O fato é que, se todo concurso fosse vencido apenas pela nossa querência (ou sofrência de vontade), de nada adiantaria tanta maratona de preparação e de nada adiantaria tanto edital com listas e mais listas de conteúdos. Se os programas dos cargos são fornecidos com bastante antecedência, é porque é necessário que o candidato queira de fato algo mais. Mas entre o querer e o agir existe uma distância a ser considerada, e não existe ciência exata nos concursos de uma forma geral. Nem todo concurseiro que quer, age para conquistar o seu querer.  Nem todo concurseiro que age, vai conquistar o que quer no prazo que definir.

Dias atrás, vi um amigo meio embravecido por não ter alcançado uma boa classificação para um concurso de universidade federal, do qual nós dois - e outros colegas - participamos. Obtemos resultados tão parecidos, ao ponto de não ser possível dizer qual a carga de estudos foi mais proveitosa: um estudou cerca de dois meses, segundo ele intensamente e sozinho; outro estudou sozinho por cerca de um mês, tempo que deu apenas para resolver algumas provas e fazer aquela lida essencial nos conteúdos; outros disseram que não conseguiram estudar tudo o que estava no programa. Enfim, centenas de histórias similares. Mas quando olhamos para as notas que tivemos, sinceramente, não dá para dizer quem foi que mais "quis" passar, ou quem mais "agiu". Porque passar não se resume a "querer", como pensa o nosso leitor.

Reforçando isso tudo, e voltando ao amigo embravecido, ele disse que "se matou de estudar", reduziu por cerca de dois meses a jornada de trabalho, para se dedicar as tardes e as noites estudando legislação e, ao final, o que conseguiu foi uma classificação mínima, que talvez deva não lhe garantir muita coisa. Ou seja, definitivamente, não existe muito esse papo simplório de que as coisas somente se resolvem pelo nosso querer...

E agora voltando ao nosso leitor crítico, lembro que nesse universo da meritocracia, todos os que "chegaram lá" em algum coisa boa, não esqueceram seus passados e presentes de virtudes, defeitos, glórias e derrotas, porque, afinal de contas, um ser humano é construído a partir de tudo isso, e não apenas de pensar ou ver o futuro.

Hoje, todos têm decorado na cabeça a mentalidade "águia" de enxergar as coisas, que às vezes não passa de uma visão muito romântica de mundo: pensar lá na frente, calcular os passos a serem dados, ter uma visão de longo prazo, para receber a vitória. Eu reconheço que este é mesmo um dom muito apreciado por qualquer ser humano minimamente sensato e que se preze, porque não podemos passar a vida olhando para o umbigo. Isso vale para qualquer pessoa, seja ela religiosa ou não. Para comprar um pão de manhã a pessoa tem que ter "visão de águia", para ir ao trabalho também, para estudar também, isso não é novidade para ninguém. Uns exercitam mais essa acuidade visual, outros menos, mas todos a possuem...

Acredito até que qualquer bicho (águia, rato, cobra, leão, papagaio, cachorro, gato, etc) deve ter alguma habilidade para "calcular" alguma coisa mesmo que seja em curto prazo. Mas todos eles, inclusive nós, estamos vivendo um presente e também guardamos as marcas do passado. Por exemplo, um animal qualquer que foi violentado,  certamente deve guardar consigo algum temor para determinada situação envolvendo mau trato. Um concurseiro que passou por dez reprovações antes de uma aprovação, certamente encara a aprovação de uma forma singular, quando comparado àquele que deu o primeiro tiro e acertou no alvo. Construímos o nosso presente agora, construímos o nosso futuro agora, mas também os construimos com o nosso passado. Você, ao ler este pequeno artigo, está construindo o seu presente e parte do seu futuro. Independente desse futuro ser "glorioso" ou "cotidiano", já vai ser alguma coisa, do mesmo jeito.

Concluindo, diria ao nosso leitor que é sempre válido, sim, lembrar das nossas dificuldades, porque elas levam a algum lugar, já que fazem parte da nossa experiência. O que não é saudável para pessoa alguma é utilizar essas dificuldades como desculpas para não realizar uma série de projetos, pessoais e profissionais, que não deveriam ser simplesmente abandonados, sem que tentássemos mais vezes.

Leia a complementação deste artigo: Ser chamado de concurseiro não é ofensa

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