Aliteração: o que é e como é usada na literatura

Aliteração é uma figura de linguagem que está na categoria de figuras de som. Ela se caracteriza pela repetição sonora de consoantes.

A escrita, quando feita de forma bem elaborada e com criatividade, vem acompanhada de alguns recursos estilísticos, que são meios de expressar ideias, pensamentos e sensações de uma forma diferente da tradicional e, em alguns casos, da literal. Hoje, falaremos a respeito da aliteração, um recurso estilístico muito comum em poesias, músicas e até travas-língua.

O que é aliteração

A aliteração é um recurso estilístico que consiste na repetição consonantal consecutiva, não aleatória, feita de forma estratégica em orações ou versos poéticos. Classificada também como figura de linguagem, a aliteração tem a função de criar impressões fonéticas em determinadas sentenças.

O termo aliteração vem de “alliteratio”, derivado de “littera”, tendo como significado é “letra”, e sua aplicabilidade na escrita se dá especialmente nas consoantes — é muito comum vermos aliterações em músicas e em outros gêneros da literatura.

Veja alguns exemplos de aliterações:

  • Três pratos de trigo para três tigres tristes
  • O rato roeu a roupa do rei de Roma

Diferenças entre aliteração e assonância

Tanto a aliteração quanto a assonância são figuras de linguagem que se classificam como figuras de som. Ainda que pareçam quase a mesma coisa, especialmente pela questão da repetição de sons, tratam-se de recursos estilísticos diferentes.

A aliteração, como já mencionamos, é a repetição dos sons consonantais, que são aqueles produzidos pelas consoantes. A assonância, por outro lado, é o que resulta da repetição de sons vocálicos, ou seja, aqueles produzidos pelas vogais. Veja exemplos que mostram a diferença entre uma figura de som e a outra:

  • Chove chuva, chove sem parar” — No verso da música de Jorge Ben Jor, temos destaque nas consoantes “ch”, por isso, a figura de linguagem é a aliteração.
  • “Essa desmesura de paixão, é loucura do coração” — Aqui, no verso da música de Djavan, destacam-se as vogais “ão”, por isso, a figura de linguagem é a assonância.
  • “Berro pelo aterro, pelo desterro/Berro por seu berro, pelo seu erro/Quero que você ganhe, que você me apanhe/Sou o seu bezerro gritando mamãe” — Neste exemplo, com os versos extraídos de uma música de Caetano Veloso, temos tanto aliteração (pelas consoantes “rr”) quanto assonância (com as vogais “e”).

Aliteração na poesia

Você já sabe que a aliteração é um recurso estilístico bastante comum nos gêneros literários, o que inclui a poesia. Veja, a seguir, a aliteração empregada (em relação à letra v) em um poema escrito pelo poeta mineiro Wagner Martins:

Vovó viu a uva
mas não viu o vovô
que viveu a vida
voando
e velejando
em busca de vivas.

Vovó viveu a vida,
vigiando vovô,
que não via a uva
pelo lado vívido
da vivência
voraz.

Vovó viu o vovô
vigiando a vida,
para viver a uva
que viu a vela
pela vivência
voraz da vida.

Vovó era voraz
de vivência vívida
e vigiava a uva
pra viver a vida
velejando em vivas
mas não viu vovô.

Vovó viveu a vela
se viu em vivas
na voragem da uva
de vovô que vivia
pela vida em vivas
prá viver davi.

A seguir, veja a presença da aliteração nos versos do poema “Violões que choram”, de Cruz e Souza:

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas

Aliteração na música

Com as produções musicais, não é diferente: as aliterações também aparecem, mas geralmente vêm acompanhadas de outros recursos estilísticos, necessários para que as composições sejam harmônicas e tenham bons arranjos musicais. Veja um exemplo abaixo, com a música “Já sei namorar”, do grupo Os Tribalistas:

Já sei namorar
Já sei beijar de língua
Agora só me resta sonhar
Já sei onde ir
Já sei onde ficar
Agora só me falta sair

Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu tamm

Já sei namorar
Já sei chutar a bola
Agora só me falta ganhar
Não tenho juiz
Se você quer a vida em jogo
Eu quero é ser feliz

Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também

Tô te querendo
Como ninguém
Tô te querendo
Como Deus quiser
Tô te querendo
Como eu te quero
Tô te querendo
Como se quer

Aliteração no trava-língua

É muito comum encontrarmos aliterações em travas-língua, que são os ditados populares feitos para testar nossas habilidades de fala e, claro, promover diversão. Os travas-língua são aliterações justamente porque são criados a partir de construções sintéticas que visam dificultar a pronúncia das palavras através da repetição de fonemas que são iguais ou muito semelhantes. Confira alguns exemplos:

  • Quem com ferro fere com ferro será ferido.
  • O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar.
  • A pia pinga, o pinto pia. Quanto mais a pia pinga, mais o pinto pia.
  • A arara de Araraquara é uma arara rara.
  • Sábia sabido sabe assobiar.
  • Dorme o gato, corre o rato e foge o pato.

Mais exemplos de aliteração

Selecionamos mais alguns exemplos de aliteração para facilitar a sua compreensão sobre o tema. Confira:

  • “A brisa do Brasil beija a balança” (de Castro Alves, em Navio Negreiro)
  • Pedro pedreiro penseiro esperando o trem que já vem, que já vem, que já vem” (de Chico Buarque, em Pedro Penseiro)
  • Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, mortinio – maior maldade mundial. Ela ocorre logo após a abertura: Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras […]. E tem esta conclusão: Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho.” (de Chico Anysio, em Mundo Moderno)
  • “Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita” (de Luís de Camões)

Outras figuras de som

A aliteração é uma figura de linguagem que está classificada dentro da categoria de figuras sonoras, ou seja, aquelas que têm impacto na sonoridade de palavras e orações completas. Além da aliteração e da assonância, sobre as quais já falamos neste texto, existem outras figuras de som: paronomásia e onomatopeia. Veja o que elas significam:

  • Onomatopeia: A onomatopeia é uma figura de linguagem que existe para transcrever a imitação de diversos tipos de sons: miau, tic toc, nhac, au au, pocotó, vrum vrum etc.
  • Paronomásia: A paronomásia serve para distinguir sons de palavras que, embora sejam escritas e pronunciadas de forma parecida, têm significados diferentes (ou seja, de palavras parônimas). Por exemplo: Os docentes da universidade são muito gratos aos seus discentes.

Vídeos sobre aliteração

O que é aliteração?

Neste vídeo do canal Descomplica, a professora Lucia Deborah dá uma explicação bastante completa a respeito da aliteração enquanto recurso estilístico na aula “Figuras de Linguagem: Som e Construção”. O conteúdo está repleto de exemplos que facilitam a compreensão.

Gramática — Figuras de linguagem: Aliteração e assonância ENEM

Aqui, no vídeo postado pelo canal Educa Mais Brasil, temos uma explicação breve a respeito das diferenças entre aliteração e assonância, com o conteúdo voltado para a resolução das provas do Enem. Excelente material para momentos de revisão.

Figuras de linguagem: Figuras de Som

Aqui, a professora Pamba fala sobre figuras de som de um modo geral, explicando quais são os tipos de figuras, mostrando exemplos e direcionando o estudo para quem vai prestar vestibular, fazer o Enem ou algum outro tipo de prova.

Agora que você já entendeu o que são figuras de linguagem, figuras de som e, especificamente, aliteração, fica mais simples reconhecer esse recurso estilístico quando for necessário, especialmente durante a resolução dos mais diferentes tipos de provas. Esperamos ter ajudado em seus estudos!

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