Artigo: o que é e características na língua portuguesa

Artigos são palavras variáveis em gênero e número que antecedem os substantivos, determinando-os de modo particular ou de modo genérico.

Os artigos fazem parte das dez classes gramaticais que integram a Morfologia (estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras). Esses termos são usados para determinar (ou indeterminar) e particularizar os substantivos que eles antecedem.

Por causa da função delimitada que eles possuem na língua portuguesa os artigos têm valor semântico (significado) demonstrativo muito pequeno. Enquanto classe gramatical, os artigos podem ser classificados como adjunto dos substantivos.

Além de determinar ou indeterminar os substantivos, os artigos também são responsáveis e flexionam de acordo com o gênero (feminino e masculino) e número (singular e plural) dos termos que eles acompanham.

Outras características dessa classe de palavras é que elas podem ser definidas [a(s), o(s)], indefinidas (uma(s), um, uns), juntar-se com preposições formando as chamadas contrações e desempenhar outras funções nas frases, como a substantivação.

Quando falado nesses termos, os artigos podem parecer uma classe de palavras complicada de se entender.

Mas tenha em mente que como falantes da língua portuguesa, você já domina o uso dessa estrutura, o que estamos a fazer aqui é apenas entender em profundidade as regras gramaticais que atuam nessa estrutura que usamos natural e cotidianamente.

O significado é reduzido, mas não insignificante

No segundo parágrafo reconhecemos que o peso do significado dos artigos nas frases é pequeno. Apesar dessa função limitada, eles são capazes de provocar diferenças significativas no sentido de uma frase. Observe as duas sentenças a seguir:

Apesar do prazo apertado, entregamos um projeto no prazo.

Apesar do prazo apertado, entregamos o projeto no prazo.

Perceba que apesar da estrutura das duas frases ser semelhante, elas poderiam ser usadas em contextos distintos.

A primeira frase poderia ser usada somente caso o interlocutor não tivesse conhecimento do que se trata o projeto mencionado, uma vez que nesse contexto o artigo “um” acaba indefinindo o substantivo.

Já na segunda sentença, subtende-se que a pessoa que lê tem conhecimento prévio sobre o projeto que está sendo mencionado, dado que o uso do artigo “o” particulariza e restringe o nome.

Vamos avançar mais um nível? Agora, vamos aprender as duas principais subdivisões dessa classe gramatical, a saber, os artigos podem ser separados em dois grupos: definidos e indefinidos.

Artigo definido

A principal característica dos artigos definidos é que eles indicam que a palavra que os sucede se trata de um ser específico e determinado. Isso só é possível caso o termo a que ele se refere já tenha sido citado ou de conhecimento comum dos interlocutores.

Os artigos definidos podem variar em gênero (masculino ou feminino) e em número (singular ou plural), veja o quadro a seguir:

 

FEMININO

MASCULINO

SINGULAR

a

o

PLURAL

as

os

Aqui seguem alguns exemplos de uso:

  • A prova que fiz hoje foi simples.
  • Ele sempre carregava o relógio do pai para todos os lugares.
  • Peguei as compras que você pediu.
  • Os convidados do evento da empresa foram embora do evento sem se despedir.

Perceba que em cada sentença a aplicação dos artigos serviu para especificar um substantivo (“a prova que fiz hoje”, “relógio do pai”) ou para fazer referência a termos que o interlocutor já conhece (“os convidados do evento da empresa”, “as compras que você pediu”).

Além disso, existem outras condições particulares para o uso dos artigos definidos nas frases:

1. Junto a nomes próprios, estabelecendo sentido de proximidade e familiaridade; quando o substantivo estiver explícito e acompanhado de pronome possessivo (nesses casos, seu uso é facultativo):

  • A Sofia não poderá participar da festa.
  • O meu irmão viajou sem destino.
  • As minhas primas vêm passar o Natal comigo.

2. Antes de nomes próprios geográficos que caracterizam países, oceanos, rios, montanhas, ilhas:

  • a França
  • as Ilhas Canárias
  • o Kilimanjaro
  • o Pacífico

3. Acompanhando cognomes e alcunhas (apelidos):

  • Daenerys, a Não Queimada
  • Alexandre, o
  • Átila, o

4. Pode ser utilizado em determinados títulos:

  • a doutora Roberta,
  • o professor José
  • as maestras Janaína e Isadora

OBS: artigo definido não deve ser usado acompanhando os títulos: Vossa Alteza, Vossa Majestade, Vossa Senhoria etc.

5. Junto ao nome de estações do ano:

  • a primavera
  • o inverno
  • o verão
  • o outono

6. Quando antecede designações de partes do corpo e nomes de parentesco, os artigos definidos carregam significado de posse:

  • As avós ajudam a cuidar dos netos.
  • Tinha os olhos fixos na linha de chegada.
  • Com a mão direita fez o sinal da cruz.

7. Usado em enumerações com o objetivo de fazer contraste:

  • Estava entre a cruz e a
  • Não sabia escolher entre o salgado e o
  • Queríamos viver no céu e na

8. Pode aparecer depois da palavra “todo(s)” e “toda(s)” para dar sentido de totalidade, substantivar um adjetivo, designações geográficas (segundo a exigência do substantivo que o acompanha), no plural e expressões numéricas (quando o substantivo for evidente):

  • Todas as nações uniram-se.
  • Todos os danosos casos tornaram-se uma vantagem.
  • Todo o Brasil para durante a copa.
  • Todas as respostas estão disponíveis no site.

9. Com nomes de pontos cardeais:

  • o Norte
  • o Sul
  • o Leste
  • o Oeste

10. Em nomes de feriados e datas comemorativas:

  • o Natal
  • a Páscoa

11. Após o numeral ambos (as):

  • Davi acompanhava ambas as irmãs.
  • Gostava de ambos os
  • Ambas as partes foram consideradas no processo.

Artigo indefinido

Ao contrário do seu par definido, os artigos indefinidos são usados para indicar que há uma generalização ou que é a primeira vez que algo é mencionado, mesmo que não seja de conhecimento comum dos interlocutores.

Os artigos indefinidos também podem variar em gênero e número, veja o quadro a seguir:

 

FEMININO

MASCULINO

SINGULAR

uma

um

PLURAL

umas

uns

IMPOTANTE! Não confunda o artigo indefinido com um numeral. Entenda que o artigo não está relacionado ao número um, mas à ideia de generalização.

Veja alguns exemplos:

  • Uma ligação que recebi mudou minha vida.
  • Comprei um picolé pois estava com calor.
  • Dei umas havaianas de presente para minha mãe.
  • Uns dados não bateram.

Repare que o uso do artigo indefinido nas sentenças deu sentido de generalização (não específico) com relação aos substantivos que eles acompanham ou de que os termos mencionados não eram conhecidos pelos interlocutores.

Como vemos no caso de “uma ligação que recebi” e de “umas havaianas”, além de “um picolé” e “uns dados” que, provavelmente, ainda serão mencionados e conhecidos no discurso. Agora veja alguns usos dos artigos indefinidos:

1. Para evidenciar as características de um substantivo mencionado anteriormente na frase acompanhado de artigo definido:

  • O foco era o olhar, um olhar misterioso.
    O olhar de Capitu é que chamava a atenção, um olhar dissimulado.”
    – Machado de Assis

2. Quando usado antes do numeral indica ideia de aproximação numérica (sugestão: substitua os artigos por “aproximadamente”, “em média” e “por volta de” pelos artigos indefinidos):

  • Ele esperou uma meia hora.
  • Tinha uns 70 quilos naquele supino.
  • O artefato datava uns dois milênios.

3. Ao comparar alguém com uma figura conhecida, popular ou famosa:

  • Ele é um Don Juan.
  • Ela sempre agiu como uma
  • Ele fala é visto como um

4. Quando se faz referência a obra de um artista:

  • Pude ver de perto um belíssimo Picasso.
  • Comprei um
  • Leiloaram um Rodin no último evento.

5. Para indicar que uma pessoa pertence a uma família ou linhagem:

  • Descobriram que Joaquina é uma Bragança.
  • O teste confirmou que ele é um Brandão.
  • Os registros comprovam que ela é uma

De acordo com o uso, os artigos indefinidos podem assumir os significação enfática, também chamada de recurso expressivo:

  • Estou com uma fome!
  • Ele não desistiu de encontrar um verdadeiro amor.
  • Toda aquela lembrança era uma

Esse recurso geralmente é usado em frases feitas, como no primeiro exemplo. Mesmo que não seja um termo absolutamente indispensável para a construção de sentido, o fato dele ser acrescentado faz com que os termos tenham maior intensidade de sentido.

Contração de artigos com preposições

Uma característica bastante particular dos artigos (tanto definidos como indefinidos) é sua flexibilidade, isso permite que eles formem contrações com preposições, formando uma única palavra contraída. Observe no quadro a seguir como isso ocorre:

 

ARTIGOS DEFINIDOS

ARTIGOS INDEFINIDOS

PREPOSIÇÕES

a, as

o, os

uma, umas

um, uns

DE

da, das

do, dos

duma, dumas

dum, duns

EM

na, nas

no, nos

numa, numas

num, nuns

A

à, às

ao, aos

--------

--------

PER/POR

pela, pelas

pelo, pelos

--------

--------

Veja a aplicação dessas contrações e como elas interferem no sentido das sentenças:  

  • Ela gostava de livros.
  • Ela gostava dos livros da Jane Austen.

Perceba que na primeira frase, que usa apenas a preposição, podemos inferir que o sujeito gosta de livros, um objeto sem especificidade.

Mas no segundo caso, o uso das contrações “de+os” e “de+a” criam o efeito de que se trata de algo específico, ou seja, não é qualquer livro, mas de um tipo específico exemplificado na sequência “os da Jane Austen”.

  • Pablo adora estar em shows.
  • Pablo adora estar nuns shows de pop.
  • Pablo adora estar nos shows da Beyoncé.

No primeiro enunciado podemos concluir que Pablo gosta de estar em shows em geral, nenhum em específico. Mas a partir da segunda frase, além da contração “em+uns” já dar um tom de certa especificidade, o final “de pop” termina de determinar um campo particular, mas ainda assim geral.

Já na terceira sentença, o uso da contração “em+os” que aparece antes já seria suficiente para determinar que existe um tipo particular de shows que Pablo costuma participar, essa especificidade é reforçada por “da Beyoncé” que é mencionado na sequência.

  • Timothy vai a pé para escola.
  • Timothy vai a umas escolas.
  • Timothy vai à escola.

É importante reforçar que o verbo “ir” é sempre acompanhado da preposição “a”. A partir disso, no primeiro enunciado temos somente preposição, dado que o substantivo que o segue é masculino, indicando a forma como ele se desloca para a escola.

Na segunda sentença, o artigo indefinido não se contrai com a preposição “a”, porque “as escolas” as quais o enunciado se refere não é específico, pode ser escola A, B ou C, não sabemos.

Já na última sentença ocorre a contração da preposição “a” com o artigo “a”, podemos inferir que o substantivo “escola” se trata de um específico, que foi já citado anteriormente ou que seja do conhecimento dos interlocutores.

Pode no WhasApp, mas não use na sua redação!

Na linguagem informal e coloquial (falada e escrita) existe a possibilidade de contrair a preposição “para” com os artigos, criando as formas: pro, pra, pros pras, prum, pruma, pruns, prumas.

Então lembre-se! Essas formas não devem ser usadas e não são aceitas na linguagem formal.

“A”: ARTIGO OU PREPOSIÇÃO?

Anteriormente, vimos que é possível contrair o artigo “a” e a preposição “a” ocasionando o que chamamos de crase. Este vídeo vai te ajudar a perceber como essa contração acontece e como distinguir quando a sentença está tratando de um artigo ou de uma preposição.

Dê uma breve pausa na sua leitura, tome um fôlego e assista esse vídeo!

Artigos multitarefas

Além de definir ou indefinir, indicar gênero (feminino ou masculino) e número (singular e plural) do substantivo e flexionar com preposições, os artigos arregaçam as mangas e exercem outras funções na língua portuguesa, são elas:

1. Substantivação

Isso ocorre quando os artigos se associam a outras classes de palavras na gramática, como adjetivos ou verbos, os transformando em substantivos. Quem exerce essa função são os artigos definidos. Observe os exemplos a seguir:

  • Entre o querer e o realizar existe um longo caminho. (substantivação de um verbo)
  • Aquela modelo tem um andar gracioso. (substantivação de um verbo)
  • Os covardes sempre fogem dos desafios! (substantivação de um adjetivo)
  • Me perco no azul dos seus olhos. (substantivação de um adjetivo)

Nas frases acima, as palavras “querer”, “realizar” e “andar” normalmente teriam o valor de verbo. Contudo, eles passam a ter valor de substantivos, uma vez que são antecedidos por artigos (fazendo com que “querer” seja sinônimo de “vontade” e “realizar”, de “realização”, por exemplo).

No terceiro e quarto caso, os termos “covardes” e “azul” são, comumente, considerados adjetivos, mas ao serem precedidos por artigo foram substantivados, passando a ter valor de substantivo quando analisados em função dentro do enunciado.

CUIDADO! As vezes um adjetivo pode se posicionar entre o artigo e o substantivo ao qual ele faz referência, observe:

Há uma sangrenta batalha pela frente

Veja que, o artigo “uma” faz referência ao substantivo “batalha” ainda que haja um adjetivo “tremenda” entre eles. Caso a frase fosse reescrita em outra ordem isso ficaria evidente: “uma batalha sangrenta pela frente”.

2. Distinção entre homônimos

Antes de tudo, vamos entender alguns termos. Quando falamos de homônimos, tratamos daquelas palavras que têm a mesma pronúncia (algumas vezes, a mesma grafia), contudo possuem significados diferentes.

Então, neste caso, o artigo vai ser usado para distinguir os homônimos, entre feminino e masculino, e ajudar o leitor facilitando a perceber a diferença entre os seus significados. Veja os exemplos a seguir:

  • Minha cabeça está doendo a dias.
  • Felipe é o cabeça da gangue.
  • O capital da empresa tem aumentado nos últimos meses.
  • Brasília é a capital do Brasil.

Perceba que a palavra “cabeça” usada na primeira e na segunda sentença, apesar de escritas exatamente da mesma forma possuem significados diferentes. Ao passo que na primeira frase o termo faz referência a parte do corpo, no segundo caracteriza Felipe como líder do grupo criminoso.

O mesmo ocorre com o termo “capital”, sua aplicação na terceira frase diz respeito a riqueza ou a quantidade de bens da empresa, na última frase a palavra designa a principal cidade do país.

Recapitulando

Com a ajuda da professora Pamba retome todo o conteúdo que você viu até aqui. Aproveite e tome notas respondendo as questões a seguir.

  • Quando usar os artigos?
  • Quando o uso do artigo é facultativo?
  • Quando não é possível fazer a contração do artigo?

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