Crase: descubra todas as regras e quando usar o acento grave

Crase é a fusão da preposição a com o artigo definido feminino a, ou com determinados pronomes iniciados pela vogal a. Entende todas as regras de uso.

Só de pensar na palavra “crase” já dá uma apreensão e vem aquela dúvida: melhor pecar pelo excesso ou pela falta? Este artigo é justamente para que você não cometa esse pecado e use esse sinal de forma adequada, vamos lá?

Primeiro, é importante saber o que se quer dizer quando falamos em crase. Essa é uma palavra de origem grega que significa “mistura” ou “fusão”. Na língua portuguesa, a crase sinaliza que existe o encontro de duas vogais idênticas, que na maioria das vezes é a preposição “a” com o artigo feminino “a”.

Dado que na língua portuguesa não costumamos usar sons longos, a função da crase (`) é, portanto, evitar a repetição de a + a. Então sempre que acontecer desses elementos se unirem, esse fenômeno será sinalizado pela presença do acento grave, que também pode ser chamado de acento indicador de crase.

Como foi dito antes, geralmente a crase ocorre pela união do artigo “a” com uma preposição “a”. Contudo, existem outras possibilidades, como o “a” no início de: pronomes demonstrativos (aquela(s), aquele(s), aquilo) e relativos (a qual e as quais).

O Novo Acordo Ortográfico também é responsável por gerar algumas dúvidas a respeito das regras de aplicação da crase. Mas já vamos deixar isso esclarecido, a nova ortografia não interferiu nas regras de uso da crase, ok?

Então, a seguir veremos as situações de uso e os fenômenos envolvidos na aplicação da crase, a fim de saber usar o acento grave da forma correta. Tenha em mente que o emprego do acento indicador de crase depende que uma preposição e um artigo ou pronome aconteçam juntos.

Afinal, quando usar crase?

Existem 7 situações nas quais o emprego da crase é obrigatório, são elas:

1. Antes de palavras femininas

Esta é a regra mais básica que precisa ser aprendida sobre o uso do acento grave. Então este caso trata da situação em que o complemento de um nome, que exige o uso da preposição “a” é um substantivo feminino antecedido de artigo feminino “a”. Veja os exemplos:

  • Elas se mostraram favoráveis à medida proposta pela vereadora.
  • Aqueles alunos dificilmente estão atentos à aula.
  • Sua risada é idêntica à da sua avó.

Observe que nos exemplos acima, a crase é o resultado do encontro entre a preposição que acompanha os termos “favorável a”, “atento a” e “idêntica a” e os antigos que antecedem os substantivos “a medida”, “a aula” e “a da sua avó, ou seja, a + a = à.

E não podemos deixar de mencionar que, salvo exceções que abordaremos mais adiante, a crase não ocorre antes de palavras masculinas. Então, caso haja dúvida sobre quando usar esse sinal, uma estratégia é substituir a palavra feminina por uma masculina: se o “a” se tornar “ao” este caso recebe crase. Observe estes exemplos:

  • Nem toda a equipe foi à confraternização de final de ano da empresa.
  • Congresso aprovou novas restrições à propaganda de bebidas alcoólicas.
  • É importante obedecer às regras do ambiente de trabalho.

Agora, vamos substituir as palavras femininas “confraternização”, “propaganda” e “regras”, pelas palavras masculinas “encontro”, “consumo” e “regulamento”. Veja:

  • Nem toda equipe foi ao encontro de final de ano da empresa.
  • Congresso aprovou novas restrições ao consumo de bebidas alcoólicas.
  • É importante obedecer ao regulamento do ambiente de trabalho.

2. Antes dos Pronomes demonstrativos e relativos

A crase será exigida quando os pronomes demonstrativos (aquele(s), aquela(s) e aquilo) e os pronomes relativos  (a qual e as quais) exercerem a função de complemento indireto. Neste caso haverá a fusão entre a preposição “a” e o “a” no início dos pronomes. Entenda por meio dos exemplos:

  • Somos contrários àqueles que defendem o radicalismo.
  • Todo verão, vamos àquela praia.
  • Refere-se àquilo que aconteceu durante o evento da noite passada.
  • A peça à qual assistimos nos surpreendeu.
  • As organizações às quais nos dedicamos são essenciais.

CUIDADO! O pronome demonstrativo pode ser oculto (também chamado de implícito). Quando isso acontecer a crase também é usada.

Atenção! O pronome demonstrativo pode estar implícito (oculto). Nesse caso, ocorre a crase:

  • Não me refiro a essa, mas à da esquerda.

Veja que quando dissemos que “mas à da direita” existe um pronome demonstrativo oculto em “mas a aquela da direita”, que se unem formando a crase.

3. Com palavras femininas que acompanham verbos que indicam destino

Verbos como: voltar, ir, vir, chegar, dirigir-se, etc. indicam destino e podem ser classificados como verbos intransitivos indiretos. Por isso, comumente, eles são acompanhados por preposição “para, de e a” (que nos importa nesse conteúdo) ocasionando a crase, veja os exemplos:

  • Timothy vai à escola.
  • Voltamos à estaca zero.
  • Dirijam-se às saídas de emergência.

4. Antes de locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas femininas

A crase é aplicada neste caso quando os substantivos (na forma singular ou plural) são antecedidos por locuções que expressam ideia de tempo, lugar e modo, como: à tarde (noite)à vontadeàs vezesàs pressasàs quatro horas, à medida que, à proporção que, à moda de. Veja estes exemplos:

  • Ele terminou a prova às pressas, pois já estava quase no horário limite.
  • Vocês são de casa, fiquem à vontade.
  • À medida que amadurecemos, damos mais ao silêncio.
  • A exceção à esta regra é a locução “a distância”, caso a distância em questão não esteja determinada, observe:
  • Observávamos tudo a distância.
  • Observávamos tudo à distância de sete metros.

5. Com expressões que indicam horas

O acento indicador de crase vai ser usado antes de locuções que indiquem horas exatas, veja:

  • Saio do meu trabalho às cinco horas da tarde.
  • As aulas do turno matutino terminam às 12h30.
  • Ele passou aqui às 8h procurando por você.

CUIDADO COM A EXCEÇÃO! Quando essas expressões forem acompanhadas de preposições (para, desde, após, perante, com), a crase não é usada não se utiliza acento indicador de crase. Observe:

  • Estamos prontos desde as 12h.
  • Marcaram o encontro no restaurante para as 20h.
  • Fique tranquilo, eu estarei no trabalho até as 9h.

6. Antes de palavras masculinas precedidas de palavra feminina IMPLÍCITA

A única ocasião na qual a crase acontece antes de uma palavra masculina (inclusive no plural) é quando ela for precedida de uma palavra feminina implícita (oculta ou subtendida), como as locuções “à moda de”, “à central de” e “à maneira de”. Observe os exemplos:

  • Ele comprou sapatos à (moda de) Luís XV.
  • Necessitamos ir à (central) abastecimentos com urgência.
  • Era uma pintura à (maneira de) Leonardo da Vinci.

7. Para evitar duplo sentido

Quando precisamos diferenciar o sentido e uma sentença, faz-se necessário o emprego do acento indicador de crase. Como neste caso a seguir:

  • Ensino à distância.
  • Ensino a distância.

Na primeira sentença fazemos referência a forma como o ensino é feito, ou seja, ele não é presencial. Na segunda frase podemos entender que a pessoa pode estar se referindo ao alguém que demonstra ou ensina a distância física de algo, como entre uma cidade e outra.

Agora, quando não usar crase?

Vamos saber distinguir as situações nas quais a crase não é aplicada?

Então recapitulando, os casos em que o acento grave não é empregado são:

1. Antes de palavra masculina

Basicamente, a crase não vai ocorrer neste caso porque antes de palavra masculina não se usa o artigo “a”, indicador do gênero feminino, logo a fusão não acontece, ou resultado geralmente é a contração “ao”.

  • O pagamento do carro foi feito a prazo.
  • Tempere com pimenta e sal a gosto.
  • Fomos ao baile de 1998.

2. Antes de verbos que não indiquem destino

Vimos nas regras de uso da crase que os verbos que indicam destino, especificamente, levam crase. Então, todos os verbos que não apresentem esse sentido não empregam o acento grave. Observe alguns exemplos:

  • Estava disposto a procurar uma nova oportunidade.
  • Creio que não cheguei a falar sobre esse assunto.
  • Meu filho está aprendendo a tocar ukelele.

3. Antes da maior parte dos pronomes

O acento grave não será usado antes dos pronomes do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas) e os do caso oblíquo (me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, o, lhe), por exemplo, veja:

  • Já pediu ajuda a alguém?
  • Dei todos as minhas miniaturas a ele.
  • Refiro-me a quem nunca pode participar dos eventos.

4. Em expressões com palavras repetidas

O acento indicador de crase não é empregado quando houver expressões com palavras idênticas repetidas, mesmo que elas sejam femininas, conheça algumas dessas expressões:

  • Gota a gota, minha paciência foi enchendo!
  • Precisamos marcar um encontro face a face.
  • Depois do afogamento, o salva-vidas fez respiração boca a boca.

5. Antes de palavras femininas de caráter genérico

O acento grave não é usado antes de palavras femininas usadas para indicar generalizações ou palavras femininas no plural antecedidas pela preposição “a”. Acompanhe os exemplos abaixo:

  • Não peço nenhum favor a pessoas de caráter duvidoso.
  • A reportagem foi relativa a mulheres que defendem a emancipação feminina.
  • As bolsas de estudo foram concedidas a alunas estrangeiras.

6. Antes de expressões adverbiais de modo com substantivos no plural:

  • Viram o criminoso ser morto a pedradas.
  • A trancos e barrancos, conseguiu alcançar seus objetivos.
  • A discussão foi resolvida a pauladas.

7. Antes de nome de pessoas famosas, cidade ou vila, numerais e do artigo indefinido “uma”:

  • O artigo estava relacionado a Clarice Lispector.
  • Chegar a Ouro Preto é como viajar no tempo.
  • Eles foram comparados a duas matracas.
  • Não se deve dar crédito a uma pessoa que deve.

Casos facultativos no uso de crase

Esses são os famosos “você quem sabe”, a crase pode tanto ser utilizada nesses casos como também é dispensável, o sentido das sentenças não será perdido ou modificado pelo seu uso. Dê uma olhadinha no vídeo a seguir.

Então, pontuando o que foi dito pelo Professor Diogo temos que o uso do acento grave é facultativo quando:

1. Antes de substantivos próprios femininos no singular

  • Em outras palavras, quando estivermos usando nomes próprios femininos o uso da crase vai depender da decisão de quem escreve, uma vez que o artigo antes do nome não é obrigatório. Veja alguns exemplos:
  • “Carlos fez um pedido à Mariana.” ou “Carlos fez um pedido a Mariana.”
  • “Fomos fazer uma visita à Anitta.” ou “Fomos fazer uma visita a Anitta.”
  • “Fizeram uma referência à Iara.” ou “Fizeram uma referência a Iara.”
  • Alguns gramáticos sugerem que, para verificar se o uso do acento grave é opcional, seja substituído na frase o termo que exige o emprego da preposição “a” por outro que demande outro tipo de preposição como:
  • “Não falamos da Sebastiana.” ou “Não falamos de Sebastiana.”

Existem outros que defendem que o ‘a’ antes de nomes próprios femininos só podem ser acentuados quando estamos falando de uma pessoa que seja do nosso círculo próximo de convivência, ou seja, com quem temos intimidade. Mas, ainda assim, essa aplicação da crase é considerada facultativa.

2. Antes dos pronomes possessivos femininos (minha, tua, nossa):

  • “Devemos satisfações à nossa mãe.” ou “Devemos satisfações a nossa mãe.”
  • “Entregue este bilhete à sua irmã.” ou “Entregue este bilhete a sua irmã.”
  • “Vou apresentar um filme à minha família.” ou “Vou apresentar um filme a minha família.” 

3. Depois da locução prepositiva “até a”

  • Sempre que a expressão “até a” for seguida de uma palavra feminina que admita artigo, a crase será opcional. Observe os exemplos:
  • “Chegaram até à praia e acamparam.” ou “Chegaram até a praia e acamparam.”
  • “Caminhamos até à escola e voltamos.” ou “Caminhamos até a escola e voltamos.”
  • “O desfile foi até à praça General Osório.” ou “O desfile foi até a praça General Osório.”

Casos específicos para o uso da crase

Neste caso vamos tratar de situações em que o uso do acento indicador de crase é aplicado de maneira específica. Mas como assim? Existem mais regras?

Uma boa forma de pensar nesses casos é como se elas fossem condições para aplicação de algumas das regras que vimos acima, para entender melhor vamos partir para o primeiro caso:

1. Antes de nomes de localidades

O acento grave vai ser usado antes de nomes de localidades (países, estados e cidades) somente naqueles que permitem a anteposição do artigo “a” quando dependentes da preposição “a”.

Para ter certeza de que existe essa anteposição do artigo basta substituir a preposição “a”, pelas preposições “de”, que quando contraído com artigo definido “a” gera “da”, ou “em”, que ocasiona a contração “na”.

Isso serve para comprovar que, já que a contração ocorre com “de” e “em”, ela também irá acontecer com a preposição “a” e, portanto, leva crase. Observe:

  • Vim da Posse.
  • Estou na Posse.
  • Vou à Posse no próximo final de semana.

ATENÇÃO! Quando houver um adjunto adnominal que determine a cidade que faça referência a uma cidade com característica específica, a crase será usada. Veja:

  • Fui à Bahia de todos os Santos.
  • Cheguei à Brasília dos políticos corruptos.
  • Regressei à Curitiba de minha infância.

2. Antes da palavra “terra

A palavra terra vai ser antecedida por crase, apenas quando a palavra designar o sentido de “Planeta Terra” e de “local específico”. Quando o termo for usado no sentido de chão (em sentido oposto a “bordo”), ou seja, indeterminado, a crase não será empregada. Veja:

  • Os astronautas regressam à Terra em 90 dias. (Planeta Terra)
  • Fui à terra onde minha bisavó nasceu. (localidade identificada)
  • Ao chegar a terra, o marinheiro foi até o local marcado. (chão indeterminado)

3. Antes da palavra “casa”

O acento indicador de crase vai ocorrer somente quando o termo “casa” está determinado (especificado) com um adjunto adnominal. Assim como no caso anterior, sem a determinação, que neste caso depende de um adjunto adnominal, não haverá crase. Observe:

  • Vou à casa de meus pais quando posso. (Com adjunto adnominal)
  • Vou a casa sempre que posso. (Sem adjunto adnominal)
  • Vou à casa de minha sogra no próximo fim de semana. (Com adjunto adnominal)
  • Vou a casa todo final de semana e feriado. (Sem adjunto adnominal)

Dicas para usar corretamente a crase

Agora que você pegou os macetes da Professora Pamba, pegue papel e caneta e guarde essas dicas para se lembrar do uso correto que vamos listar a seguir.

1. Para saber se deve ou não usar crase substituía a palavra feminina que vem depois da possível crase por um termo masculino de mesmo valor. Caso o artigo “o” do novo termo gere a contração “ao” você tem a confirmação do acento grave. Observe este esse exemplo:

  • Eu cheguei a escola de ônibus.
  • Eu cheguei ao colégio de ônibus.

Repare que, depois de fazer a troca do termo “escola” por “colégio” podemos perceber a presença do artigo definido masculino “o” antes do substantivo “colégio”. Isso confirma a presença do artigo definido feminino “a” antes do substantivo “escola”. Então temos:

  • Eu cheguei a + a escola de ônibus = Eu cheguei à escola de ônibus.
  • Eu cheguei a + o colégio de ônibus = Eu cheguei ao colégio de ônibus.

2. Parecido com o primeiro macete temos outra estratégia que é substituir o artigo definido feminino “a” pelo artigo indefinido feminino “uma”. Caso o artigo indefinido seja possível, isto indica que o uso do artigo feminino é necessário na frase. Observe:

  • Assistimos a luta de MMA de madrugada.
  • Assistimos a uma luta de MMA de madrugada.

Dado que o artigo indefinido feminino “uma” mantém o sentido da frase, concluímos que a crase é necessária, pois temos:

  • Assistimos a + a luta de MMA = Assistimos à luta de MMA.
  • Assistimos a + uma luta de MMA = Assistimos a uma luta de MMA.

3. Por fim, outra forma de confirmar o uso, ou não, do acento grave é com o caso dos verbos que indicam movimento (ir, chegar, voltar etc.). O truque é substituir esses verbos por outros que indiquem procedência (cair, vir, partir etc.) ou mesmo localização (estar, ficar etc.). Veja:

  • Chegamos a Bahia hoje pela manhã.
  • Que podemos substituir pelos dois verbos:
  • Partimos de Bahia hoje pela manhã.
  • Ficamos em Bahia hoje pela manhã.

Note que em nenhuma das substituições, apesar da presença de preposição não houve a necessidade de um artigo. Desse modo, concluímos que na primeira sentença “Chegamos a Bahia hoje pela manhã.”, não se usa acento indicador de crase.

Para ajudar a lembrar desse ponto relacionado ao uso dos verbos que são acompanhados de preposições diferentes de “a”, existe uma rima que vale a pena ser memorizada para ser aplicada a este macete, a saber:

“vou a, volto da, crase há! Vou a, vou de, crase pra quê?”.

Quer ter certeza de que funciona? Observe os exemplos:

  • Vou à Europa, volto da Europa. (aqui há crase)
  • Foi a Fortaleza, voltou de Fortaleza. (aqui não há crase)
  • Vou à América, volto da América. (aqui há crase)
  • Vou a Recife, volto de Recife. (aqui não há crase)

LEMBRE-SE! O ponto mais importante para usar o acento grave da maneira correta é saber reconhecer os casos nos quais não acontece a crase se houver somente a preposição “a” sozinha, ou apenas artigo definido “a” ou somente o pronome demonstrativo “a”.

Caso o termo que segue não demande outro “a” (seja artigo ou termo que seja iniciado com ele), ocasionando um encontro de duas vogais iguais que se fundem a crase não acontecerá.

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