Variantes linguísticas

Considerar as variantes da língua é considerar a própria evolução do homem em sua constante necessidade de se comunicar.

O homem tanto na condição de ser humano, quanto na de ser social, é passível de constantes evoluções e logicamente estas mudanças também refletem na língua que se fala. Considerar isto é entender principalmente que a ação comunicativa através do tempo prova que a língua que falamos não é uma língua morta.

Portanto, a cada dia estamos sujeitos a conviver com novas experiências linguísticas, inserção de novos termos, gírias, expressões, ou mesmo adaptações de palavras.

Um bom exemplo para esta afirmação pode ser observado na evolução do pronome “você”. Na transição do século XIX para o século XX, o pronome de origem lusitana era pronunciado como “vossa mercê”.

Com o passar do tempo evoluiu para Vossemecê, vosmecê, vancê, até sua atual forma você. E com isto, considero apenas a maneira formal da escrita, pois se fôssemos mencionar a popularidade que o termo adquiriu, ainda caberiam o “ocê” (forma falada em algumas regiões de interior do país) e “vc” (linguaguem escrita na internet), logicamente, citando estes dentro de um contexto de linguagem coloquial.

Outro fato a se considerar está na questão do Brasil, como país continental que é, possuir inúmeras diferenças linguísticas de estado para estado, região para região. As diferentes localidades denotam divergência de sotaque, pronúncia, ou mesmo significados diferentes para uma mesma palavra, considerando aspectos referentes à época, região geográfica, idade ou mesmo ambiente em que o indivíduo falante foi criado.

Sem contar a bagagem (ou falta dela) sociocultural que cada ser comunicador carrega consigo.

Considerando isto, é possível observar diferenças como a forma de falar o “r” e o “s” carregado dos paulistas, o “bixcoito” falado pelo carioca, sem contar aqueles termos que podem causar certa confusão, considerando mudanças de região.

É o caso do “moleque” catarinense, que, se pronunciado no Rio de Janeiro, pode soar ofensivo, ou mesmo “rapariga” (feminino de rapaz, em linguagem formal), que, mencionada em algumas regiões do Nordeste do Brasil, pode parecer ultrajante ou desonroso.

Teorias de Variação Linguística

Grandes pensadores contemporâneos já discutiam aspectos referentes às variações linguísticas, mas as teorias e estudos se intensificaram mais a partir da segunda metade do século XX. Alguns pensadores, como Willian Labov (1968) e Fernando Tarallo (1986), tornaram-se figuras extremamente respeitadas dentro do âmbito de discussão Linguística.

Labov, juntamente com Weinreich e Herzog, defendiam a teoria cuja afirmação é “a variação é inerente ao sistema linguístico”. Também defendiam a heterogeneidade como uma característica intrínseca às línguas, contrariando totalmente a ideia de homogeneidade defendida pela Linguística Estruturalista, em que as variações da língua não eram levadas em conta no sistema linguístico.

Já Tarallo afirmava que “variantes linguísticas são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade (…)”. Tarallo ratificava seu pensamento afirmando que “a um conjunto de variantes, temos a variável linguística”.

O escritor e professor da Unicamp considerava também a subdivisão através destas variáveis linguísticas, denominando-as de dependentes e independentes, considerando dependentes aquelas dentro do universo daquilo que se deseja estudar dentro da língua, e independentes as influenciadas por fatores linguísticos e extralinguísticos.

Levanto em conta todos estes fatores, as Variantes linguísticas classificam-se em:

Diafásica

Considera as variações que ocorrem dentro do contexto comunicativo. A ocasião em que o falante encontra-se inserido é que irá determinar que tipo de linguagem mais adequada a se usar.

Diastrática

Variação que pode ocorrer dentro de ambientes ou grupos específicos. Nesta forma de variante incluem-se as gírias, os jargões ou mesmo o linguajar rudimentar ou “caipira”. Como exemplo para esta variante, é válido citar jargões bastante explorados entre os rodoviários como “deitão” (usado para designar motoristas muito lentos) e “a boa” (considerando a última viagem que o motorista fará em seu expediente).

Diacrônica ou variação histórica

Parte do raciocínio de que a língua não é imutável e por isso, pode sofrer inúmeras adaptações através do tempo. Já citamos o exemplo do pronome “você”, mas há outros casos a citar, por exemplo, alguns termos que foram reduzidos, tais como “cinematógrafo” (hoje simplesmente cinema) e “pneumático” (reduzido para pneu), entre outros.

Diatópicas

São aquelas variações que ocorrem pelas diferenças regionais. A essas diferenças damos o nome de dialeto (do grego e latim Dialektos , Dialectus, que significa discurso, conversação) e fazem referência às diferenças entre as regiões geográficas e, logicamente, a cultura local.

Considerar, por exemplo, o fato de que no Rio de Janeiro a bexiga (bola de aniversário), em algumas regiões de São Paulo é chamada de “balão”, em algumas partes do Nordeste “bola de assopro” e em algumas partes do Sul é chamada de “papo”. No Sudeste, manga é substantivo e podem significar tanto uma fruta como uma das partes de uma camisa, mas no Nordeste, manga também pode exercer função de verbo, de forma que “mangar” é o mesmo que rir, escarnecer, debochar.

As Variantes Linguísticas demonstram o quanto a nossa forma de falar pode se adaptar através dos tempos e como essa evolução é de certa forma saudável para a comunicação e o discurso dentro de uma sociedade falante de mesma língua.

Por Alan Lima.

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