Candomblé e Umbanda

Saiba mais sobre duas religiões que mostram muito da riqueza de nossa diversidade cultural.

O candomblé é uma religião de origem africana que se baseia na crença de uma série de entidades poderosas de um plano espiritual (ou orixás, como Exu, Ogum e Pombajira), que são ligadas a forças da natureza.

Estas entidades comunicam-se conosco pelos sacerdotes espiritualmente preparados (pai ou mãe de santo). Foi trazido ao Brasil pelos escravos, no período colonial e aqui sofreu influência do Cristianismo e de religiões indígenas.

A umbanda é uma religião brasileira, ainda que com forte influência do candomblé. Ela também trabalha com orixás, mas os rituais são executados de modos diferentes. Existe na umbanda, ainda, uma forte influência do Espiritismo.

No entanto, um fator em comum entre candomblé e umbanda é que ambas são as manifestações religiosas que, no Brasil, mais nitidamente ilustram a riqueza do nosso sincretismo religioso.

O candomblé no Brasil

Até o século XVII as mais diversas formas de manifestações religiosas de origem africana eram conhecidas genericamente pelo termo “calundu”. Designava danças coletivas, cantos e músicas de instrumentos de percussão, adivinhação e cura mágica.

Calundu foi precursor das casas e terreiros de candomblé. De início, os calundus ocorriam nos espaços das fazendas e tinham um sacerdote com líder, chamado de calundeiro.

Com o crescimento das cidades e uma maior circulação de negros e mulatos nos espaços públicos, o calundu começou a ser praticado em casas preparadas especificamente para isso, ainda que à margem da lei.

Mais adiante, a independência do Brasil e a Constituição de 1824 possibilitaram a liberdade de culto, desde que os templos não exibissem símbolos religiosos nas fachadas. Essas medidas objetivavam facilitar a vinda de imigrantes não católicos, mas acabou por favorecer as práticas religiosas afro-brasileiras.

Os terreiros de candomblé assumiram também um papel político significativo nas insurreições de escravos. Eram espaços usados para reuniões do movimento e para esconder escravos fugidos.

A abolição da escravidão em 1888, seguida da Proclamação da República no ano subsequente, ocasionou na instituição de uma nova ordem econômica e política no Brasil: o trabalho escravo foi substituído pelo trabalho assalariado e o regime republicano ocupou o lugar da monarquia. Apesar da substituição de um regime por outro, não havia planos de inserção do negro livre na sociedade.

Era na religião e nos terreiros que os negros encontravam conforto, identificação e formas de reafirmação de si enquanto raça e cultura. As pessoas que se reuniam em torno de um terreiro tratam a si como a uma família: a mãe de santo é (simbolicamente) a mãe de todos, o pai de santo é o pai de todos e os demais frequentadores são todos irmãos.

Como a escravidão no Brasil separou inúmeras famílias de regiões e castas diferentes, os quais traziam consigo crenças, cultos e outras diferenças culturais e religiosas, os terreiros agregaram cultos a várias entidades, resultando no candomblé sincrético que temos hoje, que agrega, ainda, o cristianismo (por negros convertidos) e algumas influencias da religiosidade indígena.

Umbanda: brasileira

Foi entre os anos de 1920 e 1930 que a umbanda organizou-se como um culto da que é conhecida hoje. Alguns kardecistas de classe média passaram a mesclar nas suas práticas elementos de religiões afro-brasileiras e defender essa mistura como instituição de uma nova religião.

A crença em um deus único, onipotente e onisciente, bem como na reencarnação e na comunicação com espíritos permitiu um diálogo estreito do kardecismo com as crenças afro-brasileiras. No entanto, algumas divergências internas ocasionaram uma divisão informal conhecida como “umbanda branca” e “umbanda preta”.

Na primeira, há uma maior semelhança com o kardecismo nas práticas rituais, como o uso predominante de roupas brancas e a recusa em receber “entidades maléficas”, como exus e pombajiras.

Contudo, a “umbanda preta” admite exus e pombajiras sem considerá-los nocivos, mas espíritos que precisam da orientação de guias espirituais mais evoluídos. Pais e mães de santo da umbanda preta tratam estas duas classes de entidades com muito respeito e não invocam seus poderes para prejudicar terceiros.

Os orixás do candomblé tornaram-se na umbanda um tipo de clã espiritual superior (Oxalá, Oxum, Ogum, Iemanjá, etc) que orienta e monitoras as atividades de espíritos “menores”. Abaixo dos orixás estariam as crianças (erês), pretos velhos, caboclos e ciganos.

Pombajiras e exus seriam espíritos menos evoluídos ainda, constituindo representações de estereótipos da cultura popular: o malandro e a prostituta.

Todas essas entidades do universo da umbanda têm função de orientar e proteger quem os procuram, pelo intermédio do pai ou mãe de santo, mediante oferendas como bebidas, comidas, flores, velas, cigarros, entre outros, de acordo com a preferência de cada uma.

Entre estas entidades divididas em hierarquias é possível encontrar também aquelas que foram inspiradas pelas imagens de santos católicos e de antigos espíritos de mitologias indígenas. Este, aliás, é um ponto interessante da umbanda: ela reconhece a legitimidade de diferentes crenças e honra espaço de culto a elas, sejam africanas, indígenas ou cristãs.

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