Ter mais dinheiro influencia na aprovação em concursos?

Está provado que os menos favorecidos tendem a ser mais reprovados nas seleções. Você vai aceitar as estatísticas ou vai tentar lidar com esse problema?

Sei que você já sabia disso, mas não custa repetir: pode mais quem, de fato, possui mais. Isso vale para um vestibular, vale para um curso no exterior ou no país, para uma vaga de emprego, enfim, vale para muitas áreas da nossa vida. Na esfera dos concursos sabe-se que o sistema não é diferente: em boa parte das vezes, aqueles que mais investem tempo, dinheiro e enfrentam com garra as maratonas, conseguem chegar lá. Vendo de maneira apressada, isso pode parecer um mero axioma. Mas será que a "formula" é tão exata assim?

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Há pessoas que encaram essa questão até como algo danoso. Ivan Castelar, Alexandre Weber Aragão Veloso, Roberto Tatiwa Ferreira e Ilton Soares são economistas que, em certa medida, pensam dessa forma. Em um artigo recente, chamado "Uma análise dos determinantes de desempenho em concurso público", esses pesquisadores investigaram os fatores que realmente influenciavam o bom desempenho do candidato em um concurso público do BNDES. Os resultados obtidos puderam demonstrar que renda familiar, tipo de educação recebida e idade são alguns dos fatores fundamentais para a aprovação. Até mesmo a localização geográfica (morar na metrópole) e o tipo de escola onde cursamos a educação básica (se privada) são aspectos que aumentam as nossas chances de aprovação. Em contrapartida, candidatos de baixa renda pessoal ou familiar foram os que mais perderam nas provas do concurso investigado. No entanto, para os autores, isso demonstra que está em curso "um ciclo vicioso de concentração de renda, o que pode ser extremamente danoso para uma região pobre, como o Nordeste do Brasil", ou outra região qualquer. Considero a conclusão dos autores absolutamente plausível.

Como forma de revisão, lembremos quais são os principais fatores que levam a uma aprovação:

A localização do candidato

Na pesquisa, ficou claro que a taxa de sucesso dos candidatos que residem em metrópoles é bem maior, obviamente, por conta da "maior quantidade e melhor qualidade dos serviços ligados à educação e à cultura nos grandes centros urbanos". Hoje, a saída para muitos dos males que afetam pessoas das regiões menos favorecidas é a internet, que é um dos recursos mais baratos para os que estão mais distantes dos grandes centros conseguirem ampliar seus horizontes educacionais.

A Idade

O outro "óbvio científico" relatado é o quesito faixa de idade: existe "um efeito marginal positivo sobre a chance de aprovação no concurso para os candidatos na faixa de 18 a 22 anos". Argumenta-se que esse fator se deve ao melhor ritmo de estudo que jovens nessa faixa etária conseguem manter, "por estarem ainda frequentando aulas ou por terem parado de estudar há pouco tempo". Mas os acima de 22, de 32, de 42 ou de 52 continuam no páreo... Você duvida?

O desemprego

Este foi visto como um fator positivo sobre a chance de aprovação dos candidatos, pois os mesmos estão numa condição no mercado de trabalho que "possibilita uma maior disponibilidade de tempo para dedicação aos estudos, o que vai se traduzir em uma maior chance de aprovação".

A renda pessoal ou familiar baixa

A falta de renda pessoal, ou a renda pessoal baixa, teve efeito negativo sobre a chance de aprovação, no estudo realizado pelos autores. Está patente que a falta de dinheiro "limita o acesso aos materiais de estudo e a cursos preparatórios de qualidade". Sem dúvidas, a renda (ausência, escassez ou abundância dela) é um dos principais fatores de inclusão social hoje em dia. Infelizmente, ter ou não ter é algo preponderante no universo competitivo dos concurseiros, pode fazer a diferença em muitas disputas.

A educação formal

O concurso do BNDES, que serviu de base para a pesquisa dos autores supracitados, foi para o nível médio, mas alguém tem dúvidas que quais candidatos lograram mais êxito nas provas? Justamente os que tinham uma formação "além do ensino médio". "Isso reflete, fundamentalmente, uma maior maturidade intelectual e conhecimento mais vasto sobre temas cobrados nas provas que iam além do que é ministrado no ensino médio", concluem os economistas. Aqui, devemos também atentar para o que é dito:

"Contudo, não se pode desprezar o fato de que num concurso que exige nível médio, no qual participaram praticamente 80.000 candidatos universitários, mais de 35.000 graduados e aproximadamente 5.600 pós-graduados, 28,5% das vagas ofertadas ficaram ociosas. Ou seja, de um universo de cerca de 120.600 candidatos que são pelo menos universitários, somente 519 cumpriram os requisitos mínimos para serem aprovados no concurso, os demais perderam para si mesmos. Portanto, há uma forte evidência de que o baixo nível da qualidade do ensino tem transbordado para o nível superior".

Algumas saídas

Educação básicade qualidade - Para o concurseiro e consultor sobre preparação Alex Viégas, a pesquisa pode até identificar uma maioria de aprovados provenientes de classes mais abastadas, mas demonstra também que uma educação de base de qualidade pode fazer a diferença. Viégas acredita, portanto, que devemos focar no ensino básico - privado ou público - a necessidade de fortalecimento mental das crianças, não apenas dando as matérias, mas reforçando o conhecimento do que somos. "Compreender como funcionamos (como o cérebro organiza o conhecimento, por exemplo) é mais importante do que saber bem uma matéria específica. "É preciso treinar a mente dos estudantes. Pode ser que alcancemos resultados surpreendentes se treinarmos os alunos de escolas públicas desde cedo", avalia.

Não à ideia de incapacidade - O concurseiro ainda lembra que um dos pensamentos que mais mata os sonhos é o "eu não posso". "Uma ideia possivelmente criada na infância e adolescência, que se expande para o resto da vida. Então a pessoa passa a se contentar com um resultado mais baixo, comedido, próximo daquele que sua visão de si criou. Não há outro meio de trazer todas as classes para os grandes concursos. Eles continuarão sendo difíceis e selecionando os mais aptos. Não há como diminuir o nível de exigência para atender a todos as classes sociais. O caminho deve ser o contrário, fortalecer mentalmente todas as classes, para que todos tenham a consciência de que podem vencer".

Alex, por fim, enfatiza que não veio de escola pública, mas em compensação nunca foi um bom aluno. "Acho que isso compensa as coisas. Tinha tudo para me contentar com menos, mas não aceitei, me meti nessa história de concursos, uma luz aconteceu nos meus pensamentos e até hoje sinto a força daquela inspiração que me levou à vitória".

Estudo e auto-confiança - Outro especialista consultado por nós, Fabrício Bittencourt, acredita que o concurso público, da forma ampla, legítima e democrática como é praticada no Brasil, é um fator de equalização social:

"O concurso, como a própria expressão se qualifica, é público. Todos podem fazer, desde que atendidos certos requisitos. Os requisitos variam, dependendo da carreira pretendida. Alguns exigem até formação superior, mas a grande maioria demanda o ensino fundamental.  Sendo assim, basta estudar e acreditar. Hoje em dia temos acesso a materiais e cursos excelentes para os mais variados gostos os bolsos.  A diferença, em minha opinião, não tem direta relação com poder aquisitivo: a diferença é motivacional. Faz a diferença quem acredita em sua busca e faz tudo que está ao seu alcance para chegar lá", conclui Bittencourt.

Concluindo...

É importante dizer que nada do que as estatísticas indicam pode servir para desanimar o concurseiro que porventura não se enquadre no "perfil do candidato padrão". É justamente diante desses dados adversos que precisamos buscar ainda mais forças para continuar lutando pelos nossos objetivos, estejamos nós na faixa dos 18 aos 22, ou na faixa dos 30, dos 40 ou 50 anos.

Assim, não vai adiantar muita coisa o "chorar pelo leite derramado" e se perceber "acima da idade" ou com uma educação deficiente demais para enfrentar um concurso público ou outra maratona qualquer. Os menos favorecidos (aqueles pelos quais muitos não parecem "dar nada") são justamente os que precisarão provar que podem se sair muito bem, indo além do espaço delimitado de uma estatística, que pode até ser cruel e verdadeira, mas que não é a regra...

alberto@concursosnobrasil.com.br

O artigo citado pode ser lido no portal Scielo (http://scielo.br), bastando procurar pelo título.

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