Coesão e coerência textual: entenda o que são e as diferenças entre elas

Coerência e coesão textual: conceitos importantes que garantem melhor compreensão de texto e melhor escrita de redação de qualquer área.

Coesão e coerência textual são dois elementos que fazem com que um texto cumpra sua função comunicacional. E isso serve para todos os tipos de produção textual, seja uma dissertação, um e-mail, uma poesia ou uma carta.

Apesar de trabalharem juntas, elas não são a mesma coisa. Ao longo do texto vamos mostrar com mais precisão suas diferenças e suas complementariedades.

O que é coesão

De modo simples, a coesão é o uso de estruturas gramaticais que garantem a linearidade do texto, facilitam a leitura e constroem um sentido interno ao texto.

Sem o domínio dos elementos de coesão, o texto não estará harmônico para ser bem compreendido pelo leitor. 

Para tal, o escritor vai precisar usar os chamados elementos de referência que podem ser:

  • Endofóricos e
  • Exofóricos.

Entenda:

1. Elementos endofóricos

Estes são os elementos responsáveis pela ligação entre tudo que está dentro do texto. Eles são divididos em: anafóricos (quando se referem a um termo já citado) e catafóricos (quando se referem a um termo posterior). Observe o exemplo:

  • Rex e Lulu são animais de estimação. Eles foram adotados por Júlia e agora ambos vivem no apartamento dela.

O pronome “eles” se refere à Rex e Lulu, é um elemento anafórico, porque o nome dos dois já havia sido mencionado, da mesma forma que o pronome “ambos”.

A seguir mostraremos um exemplo de uma frase com um elemento catafórico:

  • Ela encantava a todos com seus movimentos precisos e delicados, a dançarina mascarada.

O pronome “ela” aparece antes da informação de quem faz movimentos precisos e delicados, ou seja, a dançarina mascarada. Por isso, tem uma função catafórica.

2. Elementos exofóricos

Estes elementos são aqueles que apontam para fora do texto, que precisam ser contextualizados — a apenas por meio do contexto é possível aferir de quem ou do que se fala.

Para esta função, são bastante utilizados os pronomes demonstrativos, veja os exemplos:

  • Naquela parede nós colocaremos um quadro.
  • Esta blusa é mais bonita que aquela.

Mecanismos de coesão textual

Além de entender a importância da coesão e como ela influencia na coerência, é necessário conhecer os recursos e tipos de coesão textual. Alguns recursos essenciais que promovem a harmonia dos elementos do texto são:

  • Ordenação correta das palavras nos períodos;
  • Utilização correta das flexões nominais, como a flexão de gênero e número;
  • Uso adequado das flexões verbais, como a flexão de: número, pessoa, modo e tempo;
  • Uso correto das preposições e conjunções.

De modo geral, toda palavra que tem função de conectivo pode ser considerada como um elemento de coesão que compõem esses recursos essenciais alguns deles são: conjunções que são responsáveis por organizar ideias opostas ou complementares; pronomes que retomam partes anteriores ou que serão mencionadas a seguir e advérbios.

Exemplos:

  • Maria saiu de casa para ir ao supermercado, mas (conjunção) estava chovendo, então (conjunção conclusiva) retornou ao seu (pronome) quarto para (locução prepositiva de finalidade) pegar o guarda-chuva, o qual (pronome relativo) estava na gaveta.

Percebeu a variedade de conectivos que um período pode ter? Elas são responsáveis por estabelecer as inter-relações entre os termos, frases, orações e parágrafos.

Ampliar seu vocabulário e memorizar os principais conectivos evita a repetição de alguns elementos, o que tornaria seu texto repetitivo. Veja a tabela a seguir com os principais conectivos, também chamados de palavras de transição.

ConectivosExemplos
Prioridade, relevânciaem primeiro lugar, antes de mais nada, antes de tudo, em princípio, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, principalmente, primordialmente, sobretudo, a priori, a posteriori
Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade)então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, no momento em que, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal, nem bem
Semelhança, comparação, conformidadeigualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, como se, bem como
Condição, hipótesese, caso, eventualmente, desde que, ainda que
Adição, continuaçãoalém disso, demais, ademais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também, e, nem, não só … mas também, não só… como também, não apenas … como também, não só … bem como, com, ou (quando não for excludente)
Dúvidatalvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não é certo, se é que
Certeza, ênfasede certo, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com certeza
Surpresa, imprevistoinesperadamente, inopinadamente, de súbito, subitamente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente
Ilustração, esclarecimentopor exemplo, só para ilustrar, só para exemplificar, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber, ou seja, aliás
Propósito, intenção, finalidadecom o fim de, a fim de, com o propósito de, com a finalidade de, com o intuito de, para que, a fim de que, para, como
Lugar, proximidade, distânciaperto de, próximo a/ de, junto a/ de, dentro, fora, mais adiante, aqui, além, acolá, lá, ali, este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo, ante, a
Resumo, recapitulação, conclusãoem suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, desse modo, logo, pois (entre vírgulas), dessarte, destarte, assim sendo
Causa e consequência. Explicaçãopor consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, na medida em que, em virtude de, de fato, com efeito, tão (tanto, tamanho) … que, porque, porquanto, já que, uma vez que, visto que, como (= porque), logo, que (= porque), de tal sorte que, de tal forma que, haja vista, pois (anteposto ao verbo)
Contraste, oposição, restrição, ressalvapelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto
Ressalva: embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, posto, conquanto, se bem que, por mais que, por menos que, só que, ao passo que
Ideias alternativasOu, ou… ou, quer… quer, ora… ora, seja… seja, já… já, nem… nem
Proporcionalidadeà proporção que, à medida que, ao passo que, quanto mais, quanto menos

Agora que conhecemos alguns recursos que podem ser usados para assegurar a harmonia entre as partes do texto, vamos conhecer os tipos de mecanismos de coesão textual, eles são classificados em cinco tipos:

  1. Referencial;
  2. Por substituição;
  3. Por elipse;
  4. Por conjunção;
  5. Lexical.

1. Coesão por referência

Este tipo de coesão textual é usado para evitar a repetição dos termos dentro do que está sendo escrito.

Dessa forma, ela “faz referência”, ou seja, aponta para outros elementos que já foram citados no texto e para acrescentar novas informações sobre algo que já foi mencionado.

Exemplo:

  • Leonardo da Vinci e Michelangelo são artistas. Eles são uns dos nomes mais famosos da história da arte.

A coesão por referência pode ser elaborada por meio de três modos básicos:

  • Pessoal: Júlia e Alice eram amigas desde a infância. Mas elas não sabiam que isso estava prestes a mudar. O pronome "elas" faz referência aos termos anteriores "Júlia" e "Alice". (referência pessoal anafórica);
  • Demonstrativa: A dor é parte da vida, esse é um fato que não se pode escapar. A palavra "esse" faz referência à informação dada anteriormente. (referência demonstrativa anafórica);
  • Comparativa: O resultado de 2+2 é o mesmo que 1+3. O conectivo "mesmo" faz referência a uma equivalência ou igualdade em uma comparação entre os termos "2+2" e "1+3". (referência comparativa endofórica).

2. Coesão por substituição

A coesão substituição é realizada quando usamos um termo no lugar de outro que tenha o mesmo valor que facilita a construção da coesão e impede a repetição dos termos ao longo do texto. Pode ser feito por meio da relação entre nomes, como mostramos no item anterior, como referência pessoal anafórica, mas também pode ser:

  • Verbal: Lorraine estudou para o vestibular. Jonas fez o mesmo. A ação de “estudar” é realizada por ambas as pessoas, contudo, na segunda oração, o verbo “fazer” é utilizado como substituto do verbo “estudar”;
  • Frasal: Eduardo tem duas irmãs. Marcos também. O termo "também" substitui "tem duas irmãs”.

3. Coesão por eclipse

Esse tipo de coesão se trata de figura sintática que é usada com o propósito de evitar a repetição de um termo (anafórico). Diferentemente da substituição, o termo da elipse é suprimido sem que o sentido da frase ou período se perca. A elipse pode ser pessoal, verbal ou frasal.

  • Pessoal: Gabriel perdeu as chaves da casa e ficou preocupado. Gabriel perdeu as chaves de casa e (ele) ficou preocupado. Foi feita a elipse do pronome pessoal "ele";
  • Verbal: Adriana foi para Miami e depois para Nova York. Adriana foi para Miami e depois (foi) para Nova York. Ocorreu a elipse do verbo "ir";
  • Frasal: Na Páscoa a demanda por chocolates é grande e no Dia dos Namorados também. Na Páscoa a demanda por chocolates é grande e no Dia dos Namorados (a demanda por chocolates é grande) também. Pode-se observar a elipse da frase " a demanda por chocolates é grande ".

4. Coesão por conjunção

No caso das conjunções sua função é conectar e estabelecer relações entre orações ou palavras, mantendo a conexão entre as partes do texto e, portanto, é um elemento de coesão. Dos vários tipos de conjunções existentes, podemos dividi-los em dois grupos:

  • Conjunções coordenativas: aditivas, adversativas, causais, temporais e continuativas.

    Exemplos:
    Mariana é uma pessoa forte e honesta. (aditiva);
    Tudo vale a pena, se a alma não é pequena – Fernando Pessoa. (adversativa);

  • Conjunções subordinativas: integrantes, causais, comparativas, concessivas, condicionais, conformativas, consecutiva, temporais, finais e proporcionais.

    Exemplos:
    Se você não for, eu não vou. (condicional);
    Tão logo cheguei em casa, começou a chover. (temporal)

5. Coesão lexical

Por fim, a coesão lexical que se trata da repetição (reiteração) ou substituição de um termo por outro que tenha sentido semelhante. Para ter este efeito são usados estes recursos:

  • Reiteração: consiste na repetição do mesmo vocábulo ou na substituição por outro de mesmo valor semântico.
    Exemplo: Imaginar que o racismo no Brasil não existe é não querer aceitar a realidade dos fatos. Trata-se, na verdade, do pior tipo de racismo, além de perverso, pois não se manifesta muito abertamente.
  • Substituição lexical: consiste na substituição de uma unidade lexical por outra que, com ela, mantém a mesma ideia de sentido. Pode ocorrer por meio de:
  • Pronomes: O Papa Francisco foi nomeado em 2013. Vossa Santidade se tornou muito popular por meio das redes sociais. (O pronome de tratamento substitui o nome do líder da Igreja Católica);
  • Sinônimos: se trata da substituição de um vocábulo por outro de mesmo sentido
    Exemplo: Houve época, nas tradições hebraicas, em que se associava a figura do juiz à do criador do universo, quando o magistrado obrava, fosse por uma hora, com inteireza sua sentença. (magistrado sinônimo de juiz);
  • Quase Sinônimo: é realizado por meio da substituição de um vocábulo por outro que, embora não possua o mesmo sentido, de acordo com o contexto retoma o vocábulo anterior.
    Exemplo: Os jornalistas protestaram após a decisão do STF quanto à não necessidade de diploma para o exercício da profissão. Segundo o sindicado da categoria, essa decisão é afronta à prática de um jornalismo profissional e eficiente. (Categoria substitui jornalista, que nesse contexto tem um valor de sinônimo);
  • Hiperônimo e Hipônimo: trata-se da relação que existe entre um vocábulo de sentido genérico (hiperônimo) e outro de sentido específico (hipônimo).
    Exemplo: De todos os répteis, o mais violento é, sem dúvidas, o jacaré. (A palavra jacaré é hipônima de répteis e répteis é o hiperônimo de jacaré).

O que é coerência?

O objetivo da coerência é preservar o sentido (nexo) do texto e assegurar que a intenção do escritor possa ser recebida e compreendida pelo leitor. Ou seja, a coerência diz respeito à visão total do texto, ao contrário da coesão que trata da estrutura interna dos elementos que compõem o texto.

Para que esse objetivo seja alcançado, o escritor precisa garantir que estejam presentes no seu texto critérios (lógicos) que vão dar sentido a ele em relação ao mundo (externo ao texto).

O sentido de um texto e a coerência estão relacionados aos conhecimentos prévios (anteriores a leitura) que eles ativam.

Princípios da coerência textual

Neste momento vamos apresentar os principais conceitos da coerência textual e como eles são podem ser empregados nas frases.

  1. Princípio da não contradição: O texto não deve possuir contradições de ideias internas entre diferentes partes dele.
  2. Coerência correta: Ele só compra leite de soja pois é intolerante à lactose.
  3. Erro de coerência: Ele só compra leite de vaca pois é intolerante à lactose.
  4. Justificativa: A segunda frase apresenta erro de incoerência (não faz sentido), porque quem é intolerante à lactose não pode consumir leite de vaca.
  5. Princípio da não tautologia: Mesmo que sejam usadas palavras diferentes, o texto e as ideias dentro dele não devem se repetir. A repetição pode comprometer a compreensão da mensagem do texto e causar redundância (tautologia).
  6. Coerência correta: Visitei a Torre Eiffel há um ano.
  7. Erro de coerência: Visitei a Torre Eiffel há um ano atrás.
  8. Justificativa: o uso do verbo haver na sua forma "há" já indica que esta é uma ação que ocorreu no passado. Então ao colocar a palavra "atrás", que também indica que a ação ocorreu no passado, não acrescenta nenhum valor e apenas faz com que ela se torne repetitiva.
  9. Princípio da relevância: a organização do texto deve seguir uma sequência lógica de eventos relacionados entre si, as ideias não devem ser fragmentadas e necessárias ao sentido da mensagem. Caso a ordem das ideias esteja incorreta, mesmo que isoladamente elas apresentem sentido, o entendimento do texto como um todo é comprometido.
  10. Coerência correta: O dia estava muito frio, nevava muito. Então o homem decidiu usar seu casaco marrom para ir ao trabalho.
  11. Erro de coerência: O dia estava muito frio, nevava muito. Então o homem decidiu usar uma roupa de praia para ir ao trabalho.
  12. Justificativa: Note que, embora as frases façam sentido isoladamente, a ordem de apresentação da informação torna a mensagem confusa. Uma vez que está nevando muito, usar uma roupa de praia na rua é um risco para a saúde do nosso personagem.
  13. Continuidade temática: Esse conceito é importante para assegurar que o texto mantenha a sequência dentro de um mesmo assunto. Quando este conceito não é respeitado, a pessoa que lê a mensagem fica com a sensação de que o assunto foi mudado repentinamente.
  14. Coerência correta: Meu hobby nos finais de semana é cuidar do jardim, gosto de plantar flores, rosas e pequenos arbustos. Ainda pretendo investir no cultivo de hortaliças.
  15. Erro de coerência: Meu hobby nos finais de semana é cuidar do jardim, gosto de plantar flores, rosas e pequenos arbustos. Mas ainda pretendo investir na bolsa de valores.
  16. Justificativa: Repare que no segundo exemplo, o narrador acaba fazendo uma mudança súbita de assunto, apesar do uso adequado do sentido de investir, o tema a que ele se refere nada tem a ver com o que estava sendo dito anteriormente.
  17. Progressão semântica: o cumprimento desse conceito garante a inserção de novas informações no texto, dando seguimento no assunto e finalizando a proposta comunicativa. Quando isso é aplicado, a leitura pode se tornar longa e arrastada e que nunca alcança seu objetivo final.
  18. Coerência correta: Os amigos estavam passeando pela mata e decidiram parar um pouco para recuperar o fôlego. Durante o repouso ouviram um barulho, como passadas se aproximando delas, de repente foram surpreendidos por um animal selvagem.
  19. Erro de coerência: Os amigos estavam passeando pela mata e decidiram parar um pouco para recuperar o fôlego. Durante o repouso ouviram um barulho, como passadas se aproximando deles, a cada nova respiração, o barulho se aproximava mais um pouco e mais um pouco. Aumentando o suspense no ar, os corações acelerados, o corpo tenso...
  20. Justificativa: Apesar das frases fazerem sentido e respeitarem uma sequência narrativa lógica, a segunda prolonga demais os detalhes da cena que acabam por atrapalhar o leitor a acompanhar a história e o desfecho é embromado.

Recomendações: como criar coerência textual?

A partir do que aprendemos sobre os princípios que precisam ser respeitados para garantir a coerência do texto. Outros elementos que podem te ajudar a garantir que a mensagem do texto seja compreensível.

Antes de fazer um texto, procure estruturar previamente a ideia principal e as ideias secundárias nas quais o conteúdo estará baseado. Durante o processo de produção, escreva de forma simples, objetiva e concisa, definindo uma linha de raciocínio e pensamento lógico, cruzando ideias e fatos de forma harmônica.

Além disso, distribua as informações importantes do texto sem deixar de enfatizá-las, exponha informações suficientes sobre o assunto e prove que tem domínio do assunto que está sendo apresentado.

O que deve ser evitado na coerência textual é o uso de palavras desnecessárias e repetitivas, ideias redundantes e contraditórias, informações e fatos isolados que não encadeiam com as ideias apresentadas anterior e posteriormente.

Também é recomendado que se evite o uso de frases muitos longas ou frases prontas, como clichês, jargões e estrangeirismos. Em suma, tenha cuidado para não utilizar recursos que desfavoreçam ou enfraqueçam seu discurso.

Fatores de Coerência

Com o objetivo de te ajudar a cumprir as recomendações anteriores, vamos lhe apresentar fatores que contribuem para a coerência de um texto, considerando sua amplitude:

1. Conhecimento de Mundo

Conjunto de saberes que adquirimos e acumulamos ao longo da nossa experiência de vida.  Eles são chamados de frames (rótulos), esquemas (planos de funcionamento, como a rotina alimentar: café da manhã, almoço e jantar), planos (planejar algo com um objetivo, tal como estabelecer metas), scripts (roteiros, tal como se portar numa entrevista de emprego).

Exemplo: Peru, Panetone, ovos de chocolate, frutas e nozes. Tudo a postos para a Festa Junina!

Uma questão cultural nos leva a deduzir que a frase acima é incoerente. Visto que “peru, panetone, ovos de chocolate, frutas e nozes” (frames) são elementos que pertencem à outras celebrações nacionais e não à festa junina.

2. Inferências

Por meio das inferências, que também podemos chamar de deduções, as informações que estão sendo apresentadas no texto podem ser simplificadas. Caso partamos do pressuposto de que os leitores ou interlocutores do texto ou mensagem partilham do mesmo conhecimento.

Exemplo: Quando os chamar para jantar não esqueça que eles veganos. (Ou seja, em princípio, esses convidados não comem produtos de origem animal)

3. Fatores de contextualização

Existem fatores e informações que inserem e situam o interlocutor (leitor) na mensagem, assegurando o entendimento do texto, como os títulos de uma notícia ou a data de uma mensagem ou fato histórico.

Exemplo: O uso das ombreiras era uma moda muito comum na década de 80.

4. Informatividade

Este elemento, especialmente, garante que o seu texto tenha mais credibilidade e seja mais interessante. Mas cuidado! O uso de uma informação isolada e reforçá-la sem um contexto ou desenvolvimento pode desvalorizar o texto.

Exemplo: Marrocos foi colonizada pela França.

Diferença entre coesão e coerência

Assim como no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), qualquer atividade requer o entendimento e o bom uso da coesão e da coerência e em todas as suas atividades. Uma vez que qualquer estudo, trabalho, texto ou mensagem precisam ser lidas e interpretadas corretamente.

A coesão é responsável pelas estruturas que organizam a superfície dos textos e que levam à construção da coerência, do sentido do que está sendo escrito. Ao mesmo tempo a coerência, que é o conteúdo e a intenção do texto, precisa estar explícita de uma forma coesa.

Podemos concluir que coesão e coerência são complementares e estão relacionadas às regras essenciais para a produção de bons textos, apesar de suas diferenças e especificidades. E vale lembrar, que apesar de um texto ser coeso ele pode ser incoerente ao mesmo tempo.

Com o propósito de delimitar os domínios de cada um desses elementos textuais, vamos assinalar algumas diferenças elementares entre eles.

O ponto fundamental da coesão textual está ligado às regras gramaticais, em outras palavras, tem a ver com a articulação interna dos termos. Já a coerência textual, do contrário, se ocupa da articulação externa e mais profundada do texto, que é o seu conteúdo.

Quando tratamos de coesão estamos nos referindo a estrutura e como um texto é organizado. Para atingir este objetivo, todas as partes que o constituem precisar estar ligadas entre si por meio de elementos conectivos. Ao passo que a coerência está relacionada à articulação lógica de ideias e ao sentido interno e externo a mensagem construída.

E todos os elementos que constroem a coesão visam assegurar a conexão entre frases, orações e parágrafos do texto. De forma alguma um texto coeso pode ser composto por uma sequência de frases isoladas umas das outras.

Pelo contrário, os elementos anafóricos (remetem ao que já foi dito) e catafóricos (remetem ao que será dito) precisam ser bem articulados fazendo com que o texto seja fluido e compreensível em seu todo.

Finalmente, a coerência é o elemento responsável pelo sentido (conteúdo e significado) do texto. Dado que toda mensagem é um ato de comunicação, seja uma dissertação, um e-mail, um poema, é indispensável que ele tenha sentido para quem envia a mensagem (emissor – quem escreve/ cria) e para quem a recebe (receptor – quem lê e ouve).

Que chamamos de nexo, a conexão entre fatos e ideias que compõem a mensagem, essenciais para garantir a coerência textual.

Exercícios sobre coesão e coerência

1. (Enem 2011) Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto, mas também de problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade física regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e aumentar a capacidade física, fatores que, somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento médico e moderação, é altamente recomendável. (ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009).

As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam na construção do sentido. A esse respeito, identifica-se, no fragmento, que

a) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias.
b) o conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste.
c) o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”, introduz uma generalização.
d) o termo “Também” exprime uma justificativa.
e) o termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de colesterol e de glicose no sangue”.

2. (Simulado INEP) Aumento do efeito estufa ameaça plantas, diz estudo.

O aumento de dióxido de carbono na atmosfera, resultante do uso de combustíveis fósseis e das queimadas, pode ter consequências calamitosas para o clima mundial, mas também pode afetar diretamente o crescimento das plantas. Cientistas da Universidade de Basel, na Suíça, mostraram que, embora o dióxido de carbono seja essencial para o crescimento dos vegetais, quantidades excessivas desse gás prejudicam a saúde das plantas e têm efeitos incalculáveis na agricultura de vários países. (O Estado de São Paulo, 20 set. 1992, p.32).

O texto acima possui elementos coesivos que promovem sua manutenção temática. A partir dessa perspectiva, conclui-se que

a) a palavra “mas”, na linha 2, contradiz a afirmação inicial do texto: linhas 1 e 2.
b) a palavra “embora”, na linha 4, introduz uma explicação que não encontra complemento no restante do texto.
c) as expressões: “consequências calamitosas”, na linha 2, e “efeitos incalculáveis”, na linha 6, reforçam a ideia que perpassa o texto sobre o perigo do efeito estufa.
d)  o uso da palavra “cientistas”, na linha 3, é desnecessário para dar credibilidade ao texto, uma vez que se fala em “estudo” no título do texto.
e) a palavra “gás”, na linha 5, refere-se a “combustíveis fósseis” e “queimadas”, nas linhas 1 e 2, reforçando a ideia de catástrofe.

3. (Enem 2013) Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado. (RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011).

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:

a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”

Gabarito

  1. A
  2. C
  3. E

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